Tão sonhada e tão temida
Passamos a vida lutando pela liberdade. Sofremos, nos resignamos e nos rebelamos, tudo isso na intenção de nos libertarmos, mas a única coisa que conseguimos é nos aprisionarmos cada vez mais, a pessoas, situações e a nós mesmos. Ficamos irritados com as pessoas que nos sufocam, aprisionam e intimidam, mas quando conseguimos tomar consciência de que não há nada nem ninguém nos aprisionando e que somos totalmente livres para fazermos nossas escolhas e alçarmos nossos vôos rumo à realização de nossos ideais, descobrimos que temos medo da liberdade. Justamente quando ela bate à nossa porta, nos mostrando que estamos prontos para a vida, livres de todas as amarras, nos sentimos paralisados.
Por que será que nos assustamos diante dela? O que será que significa termos total liberdade de ir e vir, de fazermos nossas escolhas, de sermos quem de verdade somos? Que perigos acreditamos que existem na tão sonhada liberdade?
Dentro de nossa limitada e distorcida forma de percebermos a vida, em nossa dualidade, só enxergamos duas possibilidades em nossas vidas: sermos prisioneiros de situações e pessoas, mas com isso garantindo nossa aceitação e inclusão nos grupos aos quais desejamos pertencer ou a total liberdade, mas garantindo nossa rejeição por estes mesmos grupos. Acreditamos que, ao sermos livres, as pessoas não nos aceitarão mais, pois não seremos mais para elas, aquilo que elas desejam e que lhes é conveniente que sejamos.
Portanto, o medo de sermos rejeitados e não aceitos, e a consequente solidão, caso nos libertemos das amarras dos nossos relacionamentos, faz com que não tenhamos coragem de alçar nossos vôos.
À medida que passamos por processos que nos levam a conhecermos de verdade nossa realidade interna e a nós mesmos e, conseqüentemente, a nos libertarmos das amarras das relações não saudáveis em nossas vidas, vamos, gradualmente, sentindo que as pessoas de nosso convívio começam, de forma muito inconsciente e sutil, a se afastar de nós, a modificar suas atitudes e reações para conosco, a nos tratar com certa indiferença. As pessoas recolhem sua energia, que normalmente emanavam em nossa direção, quando éramos aquilo que elas desejavam. Acostumamos-nos com o recebimento dessas energias. Nosso medo de sermos rejeitados e abandonados é tamanho, que não nos importa se as energias manifestadas pelas pessoas, em nossa direção, sejam "boas ou ruins". O que nos importa, é recebermos energias das pessoas de nosso convívio.
Nas interações humanas, a forma mais poderosa e de maior significado, e que traduz a maior realidade, é a manifestação das energias que são trocadas nessas interações. Aquilo que vivemos na "realidade física", conforme percebemos racionalmente, é a parte mais irreal que existe. Tudo o que nos acontece em nossas interações, tem um grande poder e realidade, nas dinâmicas ocultas, manifestadas pela nossa interação psíquica e, principalmente, energética.
Então, mesmo que estejamos recebendo energias densas, como por exemplo, de uma pessoa autoritária que nos limita, nos acostumamos com essa energia de autoritarismo e até gostamos, pois nosso eu inconsciente, entende que essa energia que nos aprisiona e nos limita, apesar de nos incomodar, nos dá a sensação de pertencer, de que estamos envolvidos em "algo ou alguém", de estarmos inseridos em um contexto - uma rede energética - que não nos deixa sentirmo-nos solitários. Se essa energia for recolhida pela pessoa que a emana, nos sentiremos sem referência, soltos no vazio.
Assim, ao desejarmos a liberdade e ao irmos em sua busca, passamos a desfazer essas redes de energias que criamos em nossos relacionamentos. Isso significa que vamos, aos poucos, nos sentindo cada vez mais "desprotegidos". Quando estamos livres de verdade, essa sensação de desproteção aumenta, pois perdemos o contato com as tais redes limitantes. As pessoas retiram mesmo suas energias e a sensação que experimentamos é de total abandono.
Com isso, sentimos medo de que, ao alçarmos vôo livremente rumo às nossas realizações, quando voltarmos, as pessoas que desejamos que façam parte de nossas vidas, não nos aceitem mais e nos excluam definitivamente de seu convívio.
Esta é uma crença limitante baseada em nossas percepções distorcidas. A realidade é que, enquanto acreditarmos que devemos nos deixar aprisionar por energias de pessoas possessivas, só para nos sentirmos aceitos, ficaremos sempre presos no medo da rejeição. Este medo nos mantém conectados a essas pessoas. Mas, se nos propusermos a confrontá-lo e buscarmos meios de dissiparmos essas redes das interações energéticas e psíquicas, através do conhecimento dos motivos que nos levam a interagirmos com essas pessoas dessa forma e, ainda, se nos mantivermos focados em nossos anseios e buscarmos recursos que nos levem a alcançá-los, conseguiremos finalmente nos libertar, verdadeiramente.
Prosseguindo com coragem, aos poucos, o medo do abandono se dissipará e, quanto mais estivermos livres dele, mais nos libertaremos dessas amarras e estaremos mais preparados até mesmo para enfrentar a possível rejeição de algumas pessoas. Mesmo que isso aconteça e nos entristeça, deveremos prosseguir. Neste processo e seguindo nosso coração, conseguiremos perceber que não é necessário alçar um vôo que nos leve muito distante dos nossos, mas que poderemos alçar pequenos vôos, atingindo pequenas distâncias/conquistas, adquirindo cada vez mais auto-segurança para irmos "mais longe" para atingir nossos objetivos, mas sabendo que sempre poderemos "voltar" e que continuamos a fazer parte do todo, que ainda pertencemos.
Se fizermos isso a partir do amor que temos por nós, perceberemos que é somente deste amor que precisamos. As demais pessoas são importantes, mas se deixarem de nos amar, sobreviveremos. Com isto, sem o medo do abandono, as pessoas passarão a nos respeitar e até mesmo a nos admirar, nos aceitando exatamente como somos: livres e realizados.
[Teresa Cristina Pascotto]
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