quarta-feira, 30 de junho de 2010

SILENCIANDO A MENTE

Muitas pessoas me perguntam como fazer para manter sob controle o turbilhão de pensamentos que povoam suas mentes, o tempo todo. O segredo é não fazer disso uma meta, um objetivo, pois ao fazê-lo passamos a lutar contra a mente.
E, toda forma de luta, de ação, neste caso se torna inútil. Como então empreender esta tarefa sem qualquer esforço? A única ferramenta capaz de nos auxiliar é a meditação. E, quando digo meditação isto significa simplesmente manter-se alerta, totalmente no aqui e agora.
Ao colocar a atenção sobre os pensamentos, sem qualquer tipo de julgamento, simplesmente observando-os, estes, aos poucos, perdem energia, pois emitir qualquer opinião sobre eles automaticamente amplia o seu poder.
Quando você observa atentamente seus pensamentos, amplia a percepção sobre a qualidade destes. E, se surpreende ao constatar o quanto de negatividade, medo e insegurança eles carregam.
Se conseguir se manter alerta, ainda que alguns minutos por dia, acerca de seus pensamentos, você verá que aos poucos, eles vão perdendo força, até que, repentinamente, acontece o que chamamos não-mente, ou seja, a ausência de pensamentos que imediatamente nos remete ao silêncio, o vazio onde habita a dimensão divina de nosso ser.
Quanto mais tempo conseguirmos permanecer no silêncio, mais chances teremos de "ouvir" a voz que se esconde em nosso interior. A intuição, este poderoso guia que sempre nos leva aos caminhos mais adequados à nossa evolução, se manifesta mais fortemente nos momentos em que conseguimos manter a mente em repouso.
Amado Osho,
Recentemente, ouvi-o dizer que a transcendência da miséria e da confusão da vida pode ocorrer ou através de uma entrega (let-go) ou através de uma luta - contanto que ambos sejam feitos com totalidade. O caminho de Mahavira foi o da luta, e o Seu é o da entrega. Poderia falar mais um pouco da entrega e do relacionamento que ela tem com a inteligência e a responsabilidade? Eu não tenho essa compreensão, e a minha vida parece ser uma confusa mistura de entrega e de luta. A entrega parece ser mais natural, e a luta parece ser mais responsável.
"Isso não é somente uma questão sua, é uma questão de todo mundo - uma mistura de entrega e de luta. Mas a sua entrega não é o que eu chamo de entrega; a sua entrega é simplesmente uma atitude derrotista. Basicamente você quer lutar, mas existem situações nas quais você não pode lutar, ou talvez você tenha chegado ao próprio fim da sua energia de luta. Aí então, para encobrir a sua derrota, você começa a pensar em se entregar. A sua entrega não é verdadeira, é falsa.
A verdadeira entrega não é contrária à luta.
A verdadeira entrega é ausência de luta.
E não se pode misturar a verdadeira entrega com atitudes de luta, pela simples razão de que a presença da entrega significa a ausência de uma atitude de luta. Como você poderia misturar algo que está presente com algo que está ausente?
Assim como você não pode misturar luz e escuridão, por maior artista que você possa ser - você não pode misturar luz e escuridão pela simples razão de que a escuridão é somente uma ausência de luz. Você não pode trazê-las juntas; somente uma pode estar presente.
Sendo assim, a primeira coisa a se lembrar é que a atitude básica de todo ser humano é a de lutar...Lutar é uma atitude básica, porque isso alimenta o ego. Quanto mais você luta, mais o seu ego se torna mais forte.
Se você sair vitorioso, o ego tem grande alegria. Você fica dando vida ao ego pelas suas vitórias. Mas, por outro lado, à medida que o ego se torna mais forte, o seu ser vai se afastando cada vez para mais longe de você.
À medida que seu ego se torna mais forte, você vai perdendo a si mesmo. Você pode estar lutando e saindo vitorioso, não sabendo absolutamente que não se trata de um ganho, mas de uma perda. Ensina-se a todas as crianças a lutarem, de diferentes maneiras.
A competição é uma luta, ser o primeiro da classe é uma luta, ganhar um troféu num jogo é uma luta... Essas coisas são preparações para a sua vida. Depois luta-se numa eleição, luta-se por dinheiro luta-se por prestígio. Toda essa sociedade está baseada em lutas, competição, briga, na colocação de cada indivíduo contra o todo.
... 'Entrega' significa 'nenhuma competição, nenhuma briga, nenhuma luta'... simplesmente relaxar com a existência, aonde quer que ela conduza. Sem tentar controlar o seu futuro, sem tentar controlar as conseqüências, mas permitindo-as acontecerem... sem nem pensar nelas.
A entrega está no presente; as conseqüências estão no amanhã. E a entrega é uma experiência tão deleitosa... um total relaxamento, uma profunda sincronicidade com a existência....
...A entrega não foi ensinada às pessoas, porque ela vai contra toda a estrutura da sociedade - que é baseada na competição e na luta, onde todos são seus inimigos...
A entrega é uma profunda compreensão do fenômeno de que nós somos parte de uma só existência. Nós não podemos produzir egos separados: somos um com o todo.
E o todo é vasto, imenso. A sua compreensão ajudará você a seguir com o todo, aonde quer que ele vá. Você não possui uma meta separada do todo, e o todo não tem nenhuma meta. Ele não está indo a algum lugar. Ele está simplesmente acontecendo aqui.
.... E aí então, vem um silencioso relaxamento, fluência com o rio, desinteressado do aonde ele está indo, despreocupado de que você possa ficar perdido... nenhuma ansiedade, nenhuma angústia... porque você não está separado da totalidade, sendo assim, seja o que for que vá acontecer, vai ser bom.
Com essa compreensão, você vai ver que não há mistura: a compreensão não pode se misturar com a ignorância; o insight dentro da existência não pode se misturar com a cegueira; a consciência-em-si não pode se misturar com a inconsciência-em-si.
E a entrega não pode se misturar com as diferentes espécies de lutas - isso é uma impossibilidade.
Apenas deixe-a afundar dentro do seu coração, e você descobrirá uma nova dimensão desabrochando, na qual cada momento é uma alegria, na qual cada momento é uma eternidade em si mesmo.
OSHO, Além da Psicologia.
[Elisabeth Cavalcante]

PENSAMENTO DO DIA

"A tradição é a personalidade dos imbecis." [Albert Einstein]

terça-feira, 29 de junho de 2010

A MISSÃO DAS PLANTAS

Ao entender que a maioria das doenças conhecidas da humanidade são derivadas dos pensamentos e emoções em desequilíbrio, começamos a ter uma maior noção de conjunto com relação à missão das plantas para a humanidade. Começamos, também, a ter mais claro em nossas mentes que, se aprendermos a manter a harmonia de nossa personalidade inferior, também aprendemos a nos curar, tornamo-nos responsáveis por nossa cura, assim como sempre somos responsáveis por nossa dor e doença.
Seguindo nessa linha de raciocínio, pegamos carona em uma das leis principais do universo: a Lei da Evolução Constante. Esse é um modelo mostrado pelo universo a todos nós: a vida segue seus ciclos naturais em evolução constante. Assim sendo, não podemos nos separar desse contexto, portanto, nossa missão aqui na Terra também é evoluir. Só que Deus nunca nos desampara, sempre nos oferece condições favoráveis para que suas leis se façam, enviando-nos recursos que nos ajudem a tornar essa missão mais simples.
A realidade atual é que o ser humano padece de uma miopia consciencial que não o torna apto a enxergar esses recursos e possibilidades que o universo nos envia. O curioso é que a maioria dessas opções são oferecidas abundantemente na natureza, com simplicidade, mas como não estamos conscientes, não as percebemos, logo não as aproveitamos.
Este estilo moderno de viver dos novos tempos nos distancia demais dessa reflexão necessária e, como não refletimos que nossa missão é evoluir, também não chegamos à conclusão óbvia que evoluir significa purificar nossas inferioridades. À medida que nos limpamos de emoções e sentimentos como medo, mágoa, raiva, ódio, tristeza, depressão, pessimismo, ciúmes, arrogância, egocentrismo, insegurança, baixa estima e tantas outras, estamos evoluindo verdadeiramente.
A maneira como estamos direcionando nossas vidas está nos conduzindo para um caminho sem propósito, que ilude muito mais do que ensina e ajuda a evoluir. Nosso maior propósito é vencer esses sofrimentos advindos dessas emoções inferiores que temos tanta dificuldade em domar ou educar. E qual é a consequência? Qual é o preço que pagamos?
Ficamos doentes.
Contraímos as mais diversas chagas, da alma e do físico, que são tantas...
Muitas doenças novas surgem por ano, algumas se agravam e o homem, em sua maneira de conduzir sua vida, distanciado da Fonte, não aprende a eliminar a verdadeira causa ou origem dos males. Não compreende que, se é na alma que a doença nasce, é lá que ela deve também ser curada.
Tudo parece tão óbvio quando o analisamos assim, friamente. Então, por que é tão difícil entender?
Porque nossa cultura não ensina a tratar a causa, porque não acredita na alma, não a considera. Se o corpo físico adoece, tratamos apenas dele, sem a consciência de que a doença é a sinalização que a mente e as emoções estão em desequilíbrio. É inconcebível que neste universo, as forças vitais que dão origem ao corpo espiritual, mental e emocional não sejam levadas em conta no ambiente materialista do mundo moderno. E são esses campos de energia que alimentam a alma, que organizam as forças e o equilíbrio do corpo físico.
Emoções e pensamentos positivos plasmam o corpo emocional com estrutura equilibrada e saudável, já emoções e pensamentos negativos constituem padrões também negativos e debilitados. São essas energias geradas pelas emoções e pensamentos que nutrem nosso corpo, somos o que pensamos e sentimos, inegavelmente. É aí que está o segredo de tudo, nessa compreensão. Mas, pelo visto, não estamos chegando a essa conclusão sozinhos, precisamos ser inspirados a mudar, porque por conta própria não estamos conseguindo.
As plantas e o reino vegetal em todo seu contexto possuem grande capacidade de nos oferecer energia, um tipo de vibração que é rapidamente assimilado pela aura de todos os seres vivos. As plantas têm a capacidade de armazenar um padrão de energia sutil e superior, tornando os vegetais verdadeiros enviados de Deus, perfeitos veículos de manifestação da consciência divina.
Essa vibração que assimilamos com admirável facilidade tem a capacidade de elevar nossos padrões conscienciais a níveis superiores que podem nos levar à cura das emoções densas, nossa maior meta.
Assim sendo, as plantas têm sido amigas de jornada, oferecendo emanações de vibrações curativas, energizantes, harmonizantes e amorosas. Quando nos alinhamos ao coração do Reino Vegetal e sua missão, aproveitamos melhor essa dádiva divina e começamos a descobrir um universo inimaginável de beleza e amor.
Sim, precisamos valorizar a capacidade que as plantas têm de ornamentar, refrescar, trocar o ar e perfumar os ambientes, mas não devemos ficar limitados a esses benefícios. Definitivamente, precisamos enxergar mais e ver que, no verde de Deus, são-nos oferecidas as condições de evoluirmos de forma mais rápida e equilibrada.
Comecemos a olhar para as plantas reverenciando-as, expressando-lhes gratidão e respeitando-as mais. Afinal, são emissárias celestes com a nobre missão de curar o planeta.
Quer saber mais, então conheça o Livro Fitoenergética.
[Bruno J. Gimenes]

PENSAMENTO DO DIA

"Se você quer transformar o mundo, experimente primeiro promover o seu aperfeiçoamento pessoal e realizar inovações no seu próprio interior." [Dalai Lama]

segunda-feira, 28 de junho de 2010

RAZÃO E EMOÇÃO SÃO INTERDEPENDENTES

Diante de uma decisão, é melhor seguir a lógica ou o coração? Como veremos, o melhor é perceber que estas experiências são interdependentes...

Recentemente, ao ler o livro "O Momento Decisivo", o funcionamento da mente humana no instante da escolha, de Jonah Lehrer (Ed. Best Business) esclareci uma suspeita antiga: a de que nós, seres humanos, somos emocionais por excelência! A neurociência está nos provando que a idéia de que somos seres racionais era falsa...
Desde os tempos da Grécia antiga, afirmava-se que a qualidade que torna o ser humano superior aos outros animais é a sua habilidade de racionalizar. Creio que até aí tudo iria bem se não fossem os preconceitos que se criaram em relação à sua natureza emocional.
Platão, no século IV a.C, apregoava que o homem deveria suprimir sua sensibilidade, suas emoções, pois elas o impedem de agir moralmente, ou seja, racionalmente. Para ele, filosofar era agir puramente de forma racional!
Esta forma de pensar ganha uma nova força na França, no século XVII, com René Descartes, considerado o primeiro filósofo moderno. Ao contrário dos gregos antigos, que acreditavam que as coisas são simplesmente porque são, Descartes instituiu a dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que puder ser provado, sendo o ato de duvidar indubitável. Assim, surgiu sua famosa frase: "Penso, logo existo". Mais uma vez o homem é estimulado a pensar, verificar, analisar, sintetizar, enumerar, e para tanto era preciso deixar as emoções de lado.
O ponto é que nosso cérebro emocional vem sendo depreciado no Ocidente há mais de dois mil e quatrocentos anos! As nossas emoções foram se transformando numa espécie de bode expiatório de todas as más decisões tomadas.
Desta forma, crescemos aprendendo a abafar nossas emoções, quer dizer, de uma forma ou de outra, nos foi ensinado que as emoções não eram confiáveis! Na hora de tomar uma decisão, nos era sempre recomendado: "Pense bem, controle suas emoções, seja superior a elas!"
Mas, esta idéia de que as emoções deviam ser deixadas de lado foi por água a baixo, em 1982, pelo neurocientista português Antonio Damásio, com seu paciente chamado Elliot.
Elliot havia extraído um pequeno tumor do córtex cerebral. Apesar de estar fisicamente bem e seu QI não sofrer alterações, passou a ter um comportamento um tanto limitador: não conseguia tomar decisões. Desde as tarefas mais rotineiras como escolher que roupa iria vestir. O fato é que sua vida ficou totalmente arruinada: perdeu o emprego e sua mulher pediu o divórcio.
Damásio notou que Elliot estava emocionalmente distante de tudo e todos, assim como de si próprio. Sua fala era calma, porém, indiferente. Não demonstrava qualquer sentimento de frustração, impaciência ou tristeza. Surpreendido, Damásio questionou a premissa da racionalidade humana, isto é, de que uma pessoa sem emoções seria capaz de tomar as melhores decisões!
Foi, então, com base no estudo deste doente e de muitos outros, que Damásio começou a compilar um "mapa do sentimento", localizando as áreas específicas do cérebro que são responsáveis pela geração de emoções. "Um cérebro que não consegue sentir, não pode decidir", concluiu.
Aproximar-se e reconhecer os próprios sentimentos e os dos outros, assim como a capacidade de lidar com eles e expressar as emoções é uma forma de desenvolvermos nossa inteligência emocional: saber reconhecer e validar sentimentos e pensamentos presentes nas escolhas e decisões.
Muitas vezes usamos de um mecanismo de defesa chamado racionalização, para não encarar os problemas de frente: criamos desculpas racionais para nossas dificuldades emocionais. Uma maneira fácil para distinguirmos se estamos tendo um pensamento racional, ou fazendo uma racionalização, é notar a diferença entre os dois: o pensamento racional busca "razões boas" enquanto que a racionalização cria "boas razões"...
Ao sentir nossos sentimentos, aumentamos a consciência dos estados sensível de nossa mente. Este é um processo íntimo que requer uma atitude introspectiva. No momento em que expressamos nossos sentimentos, eles se manifestam como emoções.
Na medida em que aprendemos a prever as consequências de nossas escolhas, podemos nos responsabilizar por elas. Desta forma, analisamos nossos sentimentos. Ganhamos autoconfiança e coragem.
No entanto, podemos refletir o quanto quisermos e pudermos, mas, quando chega o momento de decidir, não há como evitar o frio na barriga diante do salto no escuro... Primeiro, porque toda experiência é única - não temos como buscar garantias nas experiências alheias e depois, só quando nos tornamos o novo é que sabemos que cara ele tem!
[Bel Cesar]

PENSAMENTO DO DIA

"Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte?" [Confúcio]

quarta-feira, 23 de junho de 2010

UMA PROPOSTA DE EXPANSÃO PARA A PSICOLOGIA E A PSIQUIATRIA

A Psicoterapia Reencarnacionista é a Reencarnação no consultório psicoterápico, a Terapia da Reforma Íntima. É um tratamento de alguns meses, com consultas de 1 hora de duração intercaladas com sessões de regressão de 2 horas. Ela tem a finalidade de trazer à Psicologia e à Psiquiatria uma possibilidade de expansão nunca antes imaginada. A Reencarnação é agregada aos conceitos psicológicos e psiquiátricos, criando uma nova maneira de encarar os conflitos de todos nós e as doenças mentais. Com a Reencarnação, a infância deixa de ser considerada o início da vida e passa a ser vista como a continuação de nossa vida eterna; a nossa família não é mais um conjunto de pessoas que se uniram ao acaso por laços afetivos e, sim, um agrupamento de Espíritos unidos por laços kármicos; as situações que vamos encontrando no decorrer da vida não são aleatórias e, sim, reflexos, conseqüências, decorrências de nossos atos passados, necessidades para nosso projeto evolutivo espiritual.
A Psicologia atual, herdeira da concepção não-reencarnacionista, enxerga nossa vida apenas desde a infância e, por isso, limita seu campo de ação a uma fração mínima da nossa existência. Trabalha com um conceito equivocado que é a Formação da Personalidade, pois afirma que não existíamos antes. Considera, então, que nossas características de personalidade originam-se lá no "início da vida", bem como nossos sentimentos negativos, pela conjunção de fatores genéticos, hereditários e ambientais. Tudo se originou lá, obrigatoriamente, pois nada havia antes.
Mas e as nossas encarnações passadas? Na nossa vida encarnada anterior não tínhamos uma personalidade? Evidentemente que sim, então, não é razoável e de bom senso pensar que somos a continuação daquele que fomos nessa vida anterior à atual? Isso derruba o conceito de Formação de Personalidade e cria um outro conceito, revolucionário, evolucionista, clarificador, o de Personalidade Congênita, um dos pilares básicos da Psicoterapia Reencarnacionista.
Algumas pessoas reencarnaram para lidar com questões morais, como tendências a roubar, enganar, mentir, trapacear, atributos de um Ego autônomo, míope, dissociado do seu Mestre Interior; outros reencarnaram para lidar com características pessoais que afetam mais a si mesmos, como a timidez, a mágoa, o medo, a introversão; algumas pessoas aqui estão para libertar-se da raiva, que faz mal a si e a outros. Cada um de nós está aqui, no Astral Inferior, para encontrar suas inferioridades, que freqüentemente traz consigo há centenas ou milhares de anos, tendo passado por muitas encarnações em que sua atuação no sentido de evolução, de libertação, tem sido aquém do que poderia ter sido. Uma das finalidades da novíssima Psicoterapia Reencarnacionista é ajudar as pessoas a melhor aproveitarem suas encarnações, no sentido da busca da purificação, da sua volta para o Todo.
A Regressão para a Psicoterapia Reencarnacionista tem duas finalidades: terapêutica (desligamento) e consciencial. Além do aspecto clássico do desligamento de situações traumáticas do passado, para melhorar ou curar os sintomas das fobias, do transtorno do pânico, as depressões severas, as dores físicas sem solução, sensações intensas de solidão, de abandono, etc., a Regressão Terapêutica (Método ABPR) quer oportunizar às pessoas algo muito importante: encontrarem a sua Personalidade Congênita, o pilar dessa nova Escola. Nós somos como temos sido nas últimas encarnações, ou seja, quem é bravo e agressivo já era assim há centenas de anos, e veio para curar isso; quem é medroso e passivo já era assim e veio para curar isso; quem é triste e magoado já era assim e veio para curar isso; quem é preguiçoso e irresponsável já era assim e veio para curar isso; enfim, cada um é como era e veio para curar-se. Essa é a verdadeira finalidade da Reencarnação, é a busca da Reforma Íntima, e as pessoas saberem disso pode oportunizar o seu real aproveitamento da sua atual encarnação.
Para a Psicoterapia Reencarnacionista, as regressões têm também essa finalidade: conscientizar a pessoa de que vem sendo de uma certa maneira há centenas ou milhares de anos e que aquela característica que lhe incomoda (medo, insegurança, raiva, sentimento de rejeição, etc.) não veio de sua infância atual, não foi causada pelos "vilões", geralmente pai e mãe, e sim, ele vem sendo assim, sentindo assim, agindo assim, há muito tempo, e é para isso que vem reencarnando, descendo para a Terra, para mudar esse padrão, e se fizer isso estará aproveitando essa curta passagem; se não fizer, ou apenas um pouquinho, estará perdendo tempo.
Outro ponto importante: nós não terminamos a regressão logo após o final da situação traumática, e sim, utilizamos a regressão completa, que vai desde a situação traumática até a morte, continuando com o desencarne, e até a pessoa recordar sua subida para o Astral, até estar se sentindo muito bem lá, quando já não sente mais aquele medo que sentia, aquela raiva, aquele sentimento de rejeição, aquela solidão, aquele medo, a dor da facada, do tiro, etc.
No Mundo Espiritual, existe o Telão, comandado pelos Seres superiores de lá; aqui na Terra tem a Regressão, que deve ser também comandada por eles, pois existe a Lei do Esquecimento e ela não deve ser infringida, pois é uma circunstância do Espírito reencarnado que, se reencarnasse sabendo do seu passado, certamente não agüentaria o peso dessa memória, seja em relação ao que lhe foi feito como também ao que fez em outras épocas. Imaginem se soubéssemos quem nós e nossos pais, filhos, demais parentes, conhecidos, fomos e fizemos em encarnações passadas; seria praticamente impossível nossa convivência! E a busca dos resgates, das harmonizações, seria muitíssimo prejudicada se não houvesse o Esquecimento. Por isso, quando o Espírito reencarna vem com o seu passado oculto dentro do Inconsciente, e isso deve ser respeitado, ou seja, vem para não saber quem foi e o que houve no passado.
Mas a Terapia de Regressão é uma técnica criada e incentivada pelo Mundo Espiritual para ser utilizada no Plano Terrestre, um beneficio para o Espírito encarnado, e isso que pode parecer uma contradição, pode ser conciliado, desde que seja observada a Ética em relação ao Esquecimento.
A Regressão deve ser comandada pelo Guia Espiritual do paciente e não pelo terapeuta, essa é a ética da regressão realizada por nós da Associação Brasileira de Psicoterapia Reencarnacionista (www.abpr.org), criada em 2004 por um pequeno grupo de terapeutas em Porto Alegre, e que vem crescendo, atualmente com Cursos de Formação em quatro estados do Brasil e, em breve, em outros países.
[Mauro Kwitko]

PENSAMENTO DO DIA

"O outro não o preenche. Preenchimento é interno." [Osho]

segunda-feira, 21 de junho de 2010

CIÊNCIA DESCOBRE A LUZ NO CORPO HUMANO

POR NOSSO CORPO CIRCULA LUZ
[Jorge Carmona]
Li há algum tempo na revista Dsalud um artigo que apóia tudo aquilo que para nós já é tão legítimo: que somos energia, somos seres de luz.
Vejam, então, que os nossos sisudos cientistas foram capazes de demonstrar que assim é: que os canais energéticos que as culturas orientais conhecem há milênios e que descobriram de forma empírica, por revelações (de forma surpreendente para os racionais ocidentais), existem na realidade científica racional a qual estamos acostumados!! O que não passa por essa racionalidade e essa ciência não existe oficialmente. Pois bem, os chakras, os canais energéticos, os meridianos, a pura energia e o reiki, inclusive a conexão entre humanos, já existem para a ciência.
Em resumo: foi descoberto que a água dentro do organismo se manifesta na forma de cristal líquido (como as telas dos computadores), uma cristalização que permite conservar as propriedades dos cristais óticos (sua capacidade de armazenar informação e vibrar a determinadas freqüências) e dos líquidos (sua capacidade de fluir) ao mesmo tempo. Isto significa: ela retem memória.
Lembram-se das fotos dos cristais de água do Dr. Masaru Emoto?
Dito isto, não podemos esquecer que 75% de nosso corpo é água (para um bebê este percentual é de 95%), daí a importância desta descoberta.
A água conduziria os biofótons (informação eletromagnética) - o CHI, o Ki, o prana -, a velocidades inimagináveis através de nosso corpo. Por nossas veias (eletromagnéticas) circula luz!
Além disso foi descoberta uma rede ferroso-férrica de moléculas (de ferro) que graças às diferenças de potencial (geradas porque se oxidam e reduzem constantemente estas partículas) produzem energias eletromagnéticas que circulam por todo o nosso corpo, nutrindo-o e protegendo as reações bioquímicas (amplamente conhecidas por nossos cientistas) que sustentam nossa saúde. Casualmente estas redes são mais densas justamente em um local que coincide com um canal central diante da coluna, e possuem sete bolas de macromoléculas coincidindo com os lugares descritos como chakras, protegendo as glândulas mais importantes do organismo, onde se desenvolvem as reações bioquímicas essenciais para a vida.
Bem, o cristal líquido ficaria dentro das células e seria influenciado pelo campo magnético descrito, emitiria energia de determinados e diferentes comprimentos de onda para seu exterior, o que constituiria a aura, e captaria, como uma grande antena parabólica, informação externa.
Nossas moléculas de cristal líquido estariam fixadas dentro da rede ferroso-férrica, e serviriam como lugar de armazenagem de informação. A cientista que fez tão estupenda descoberta diz admitir que o ser humano seja formado por um corpo magnético, outro bioquímico e outro mental. Se o corpo magnético se desorienta ou danifica, deixa de proteger a estrutura bioquímica e a enfermidade surge. Se trabalhamos energeticamente sobre nosso organismo, reparamos a estrutura magnética e, conseqüentemente, a estrutura bioquímica também se recupera e, por extensão, a saúde.. Constantemente, através dos chakras, nosso corpo se nutre da energia que nos rodeia para poder funcionar bioquimicamente de forma correta.
Bem, isso é tudo. Podem ver de forma ampliada no seguinte endereço (em espanhol): http://www.dsalud.com/numero85_1.htm.
A reflexão seguinte é lógica e é uma conseqüência deste artigo. Se nosso corpo é luz e por ele circula luz, o mais lógico é que a luz do sol tenha um efeito de bateria de recarga sobre o mesmo. (…) Nosso corpo, por deficiências de alimentação e por costumes nocivos, perderia em alguns casos essa capacidade de distribuir luz harmoniosamente através de suas células, ocasionando problemas de saúde e estados de estresse.
A ação da luz solar teria o objetivo de regenerar e, posteriormente, recarregar todo esse circuito, para então recompô-lo, elevando sua vibração e desenvolvendo as partes ainda não acessadas de nosso cérebro (deixamos de utilizar cerca de 80%). Aí então poderemos estabelecer a reconexão com nosso mundo espiritual.
[Enviado por Rose Diehl]

PENSAMENTO DO DIA

"Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio." [Sigmund Freud]

domingo, 20 de junho de 2010

SAUDADE SEM DOR


Procuro, faz tempo, entender o real significado de 'saudades'. Quais as razões implícitas no conteúdo desta palavra que é tão singular em nosso vocabulário? A pergunta ficou no ar por muito tempo.
O uso da meditação ajudou-me na primeira grande descoberta, quando percebi que saudade deve ser diferente do sentimento de ausência.
Confesso que para mim tudo o que se encaixava no conceito de falta significava saudade. Grande equívoco, não é verdade?
Hoje sei exatamente que ausência é a falta que jamais será preenchida, enquanto saudade é a lembrança de algo ou alguém que marcou muito nossas vidas e que poderá vir a se repetir.
Diante disso, desta descoberta, jamais senti, novamente, a saudade que dói; muito menos, permiti-me sentir a ausência de alguém.
Meu Mestre me ensinou que a ausência tem origem no apego. A matéria é apego. O sentimento é saudade.
Apego gera dependência e falta de iniciativa. Vários e-mails que recebo demonstram que as pessoas não sabem conviver com o apego, que deve conter uma dose consistente de dependência.
Nossa felicidade jamais pode estar vinculada às pessoas que nos cercam, porque cada uma vê e sente a vida pela ótica de sua evolução. Somos nós a projetar nos outros o que esperamos que eles sejam. E isso é um grande equívoco.
Os valores são individuais e ninguém consegue sentir a mesma coisa que o outro, embora estejam vendo, vivendo, ou convivendo, com o mesmo cenário.
Não há, portanto, regra que possa ser aplicada para se gerar a própria felicidade. Como também não existe forma de se explicar a diferença entre saudade e apego. Temos que descobrir, com esforço próprio, esta diferença, sentindo. Para sentir é preciso isolar a matéria envolta no caso e simplesmente deixar que a emoção aflore, sem forma e sem tempo.
Forma e tempo são matéria. Na essência do Universo o tempo não conta. Quer um exemplo? Quando você está absolutamente feliz com a companhia de alguém, o passar do tempo é percebido? Não, né? Pois é. Fora deste planeta não há tempo. Não temos necessidade de dormir. Dormir é físico. Não somos humanos, simplesmente estamos humanos.
Não há apego... Somos felizes.
Do meu passado só admito sentir saudades. Quando percebo que é apego, procuro execrar o sentimento.
Do meu passado elimino todos os cenários que contemplam as dores. Elas são um fardo muito pesado para ser carregado no presente. Elas, as dores, contaminam o meu futuro. Não há como projetar uma boa vida se o passado negativo a contamina.
A morte ensina a dor do apego.
Se seu apego tem dependência, elimine-o.
Se sua saudade tem dor, elimine-a.
Se sua vida não tem saudades, crie-as.
Viver sem este sentimento é o mesmo que cozinhar sem sal... O sabor vai embora.
O amor ensina a "dor" da saudade.
Viver sem o passado ensina a crescer.
Como você vai viver? A escolha é sua. Suas colheitas atuais dependem de suas decisões tomadas no passado.
Não se irrite, nem se culpe, só mude conceitos e valores. Culpa e irritação criam doenças no corpo físico. Agindo assim irá alterar o fluxo de seus pensamentos e atitudes. Obviamente será a seu favor.
[Saul Brandalise Jr.]

PENSAMENTO DO DIA

"A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem." [Oscar Niemeyer]

sábado, 19 de junho de 2010

SARAMAGO

Este Blog está hoje, dolorido com a partida de José Saramago. Em um mundo, onde cada vez mais as pessoas se comunicam através de sinais eletrônicos, a falta de um escritor com o talento de Saramago é motivo de muitas lamentações. Fica o consolo de que a Língua Portuguesa, tão combalida e vilipendiada, foi amada e reverenciada por esse autor lusitano.
Posto aqui, o último artigo deste autor, publicado em seu Blog, no dia 18 de junho. [Lineu Cotrim]



ÚLTIMO TEXTO

O conto da ilha desconhecida

José Saramago

Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco. A casa do rei tinha muitas mais portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava todo o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele), de cada vez que ouvia alguém a chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se calar. Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres. O suplicante dizia ao que vinha, isto é, pedia o que tinha a pedir, depois instalava-se a um canto da porta, à espera de que o requerimento fizesse, de um em um, o caminho ao contrário, até chegar ao rei. Ocupado como sempre estava com os obséquios, o rei demorava a resposta, e já não era pequeno sinal de atenção ao bem-estar e felicidade do seu povo quando resolvia pedir um parecer fundamentado por escrito ao primeiro-secretário, o qual, escusado se ria dizer, passava a encomenda ao segundo-secretário, este ao terceiro, sucessivamente, até chegar outra vez à mulher da limpeza, que despachava sim ou não conforme estivesse de maré.
Contudo, no caso do homem que queria um barco, as coisas não se passaram bem assim. Quando a mulher da limpeza lhe perguntou pela nesga da porta, Que é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era o costume de todos, um título, uma condecoração, ou simplesmente dinheiro, respondeu, Quero falar ao rei, Já sabes que o rei não pode vir, está na porta dos obséquios, respondeu a mulher, Pois então vai lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tapando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair, só por cima dele. Ora, isto era um enorme problema, se tivermos em consideração que, de acordo com a pragmática das portas, ali só se podia atender um suplicante de cada vez, donde resultava que, enquanto houvesse alguém à espera de resposta, nenhuma outra pessoa se poderia aproximar a fim de expor as suas necessidades ou as suas ambições. À primeira vista, quem ficava a ganhar com este artigo do regulamento era o rei, dado que, sendo menos numerosa a gente que o vinha incomodar com lamúrias, mais tempo ele passava a ter, e mais descanso, para receber, contemplar e guardar os obséquios. À segunda vista, porém, o rei perdia, e muito, porque os protestos públicos, ao notar-se que a resposta estava a tardar mais do que o justo, faziam aumentar gravemente o descontentamento social, o que, por seu turno, ia ter imediatas e negativas consequências no afluxo de obséquios. No caso que estamos narrando, o resultado da ponderação entre os benefícios e os prejuízos foi ter ido o rei, ao cabo de três dias, e em real pessoa, à porta das petições, para saber o que queria o intrometido que se havia negado a encaminhar o requerimento pelas competentes vias burocráticas. Abre a porta, disse o rei à mulher da limpeza, e ela perguntou, Toda, ou só um bocadinho. O rei duvidou por um instante, na verdade não gostava muito de se expor aos ares da rua, mas depois reflexionou que pareceria mal, além de ser indigno da sua majestade, falar com um súdito através de uma nesga, como se tivesse medo dele, mormente estando a assistir ao colóquio a mulher da limpeza, que logo iria dizer por aí sabe Deus o quê, De par em par, ordenou. O homem que queria um barco levantou-se do degrau da porta quando começou a ouvir correr os ferrolhos, enrolou a manta e pôs-se à espera. Estes sinais de que finalmente alguém vinha atender, e que portanto a praça não tardaria a ficar desocupada, fizeram aproximar-se da porta uns quantos aspirantes à liberalidade do trono que por ali andavam, prontos a assaltar o lugar mal ele vagasse. O inopinado aparecimento do rei (nunca uma tal coisa havia sucedido desde que ele andava de coroa na cabeça) causou uma surpresa desmedida, não só aos ditos candidatos mas também à vizinhança que, atraída pelo repentino alvoroço, assomara às janelas das casas, no outro lado da rua. A única pessoa que não se surpreendeu por aí além foi o homem que tinha vindo pedir um barco. Calculara ele, e acertara na previsão, que o rei, mesmo que demorasse três dias, haveria de sentir-se curioso de ver a cara de quem, sem mais nem menos, com notável atrevimento, o mandara chamar. Repartido pois entre a curiosidade que não pudera reprimir e o desagrado de ver tanta gente junta, o rei, com o pior dos modos, perguntou três perguntas seguidas, Que é que queres, Por que foi que não disseste logo o que querias, Pensarás tu que eu não tenho mais nada que fazer, mas o homem só respondeu à primeira pergunta, Dá-me um barco, disse. O assombro deixou o rei a tal ponto desconcertado, que a mulher da limpeza se apressou a chegar-lhe uma cadeira de palhinha, a mesma em que ela própria se sentava quando precisava de trabalhar de linha e agulha, pois, além da limpeza, tinha também à sua responsabilidade alguns, trabalhos menores de costura no palácio como passajar as peúgas dos pajens. Mal sentado, porque a cadeira de palhinha era muito mais baixa que o trono, o rei estava a procurar a melhor maneira de acomodar as pernas, ora encolhendo-as ora estendendo-as para os lados, enquanto o homem que queria um barco esperava com paciência a pergunta que se seguiria, E tu para que queres um barco, pode-se saber, foi o que o rei de facto perguntou quando finalmente se deu por instalado, com sofrível comodidade, na cadeira da mulher da limpeza, Para ir à procura da ilha desconhecida, respondeu o homem, Que ilha desconhecida, perguntou o rei disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, dos que têm a mania das navegações, a quem não seria bom contrariar logo de entrada, A ilha desconhecida, repetiu o homem, Disparate, já não há ilhas desconhecidas, Quem foi que te disse, rei, que já não há ilhas desconhecidas, Estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as ilhas conhecidas, E que ilha desconhecida é essa de que queres ir à procura, Se eu to pudesse dizer, então não seria desconhecida, A quem ouviste tu falar dela, perguntou o rei, agora mais sério, A ninguém, Nesse caso, por que teimas em dizer que ela existe, Simplesmente porque é impossível que não exista uma ilha desconhecida, E vieste aqui para me pedires um barco, Sim, vim aqui para pedir-te um barco, E tu quem és, para que eu to dê, E tu quem és, para que não mo dês, Sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-me todos, Mais lhes pertencerás tu a eles do que eles a ti, Que queres dizer, perguntou o rei, inquieto, Que tu, sem eles, és nada, e que eles, sem ti, poderão sempre navegar, Às minhas ordens, com os meus pilotos e os meus marinheiros, Não te peço marinheiros nem piloto, só te peço um barco, E essa ilha desconhecida, se a encontrares, será para mim, A ti, rei, só te interessam as ilhas conhecidas, Também me interessam as desconhecidas quando deixam de o ser, Talvez esta não se deixe conhecer, Então não te dou o barco, Darás. Ao ouvirem esta palavra, pronunciada com tranquila firmeza, os aspirantes à porta das petições, em quem, minuto após minuto, desde o princípio da conversa, a impaciência vinha crescendo, e mais para se verem livres dele do que por simpatia solidária, resolveram intervir a favor do homem que queria o barco, começando a gritar, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. O rei abriu a boca para dizer à mulher da limpeza que chamasse a guarda do palácio a vir restabelecer imediatamente a ordem pública e impor a disciplina, mas, nesse momento, as vizinhas que assistiam das janelas juntaram-se ao coro com entusiasmo, gritando como os outros, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. Perante uma tão iniludível manifestação da vontade popular e preocupado com o que, neste meio tempo, já haveria perdido na porta dos obséquios, o rei levantou a mão direita a impor silêncio e disse, Vou dar-te um barco, mas a tripulação terás de arranjá-la tu, os meus marinheiros são-me precisos para as ilhas conhecidas. Os gritos de aplauso do público não deixaram que se percebesse o agradecimento do homem que viera pedir um barco, aliás o movimento dos lábios tanto teria podido ser Obrigado, meu senhor, como Eu cá me arranjarei, mas o que distintamente se ouviu foi o dito seguinte do rei, Vais à doca, perguntas lá pelo capitão do porto, dizes-lhe que te mandei eu, e ele que te dê o barco, levas o meu cartão. O homem que ia receber um barco leu o cartão de visita, onde dizia Rei por baixo do nome do rei, e eram estas as palavras que ele havia escrito sobre o ombro da mulher da limpeza, Entrega ao portador um barco, não precisa ser grande, mas que navegue bem e seja seguro, não quero ter remorsos na consciência se as coisas lhe correrem mal. Quando o homem levantou a cabeça, supõe-se que desta vez é que iria agradecer a dádiva, já o rei se tinha retirado, só estava a mulher da limpeza a olhar para ele com cara de caso. O homem desceu do degrau da porta, sinal de que os outros candidatos podiam enfim avançar, nem valeria a pena explicar que a confusão foi indescritível, todos a quererem chegar ao sítio em primeiro lugar, mas com tão má sorte que a porta já estava fechada outra vez. A aldraba de bronze tornou a chamar a mulher da limpeza, mas a mulher da limpeza não está, deu a volta e saiu com o balde e a vassoura por outra porta, a das decisões, que é raro ser usada, mas quando o é, é. Agora sim, agora pode-se compreender o porquê da cara de caso com que a mulher da limpeza havia estado a olhar, foi esse o preciso momento em que ela resolveu ir atrás do homem quando ele se dirigisse ao porto a tomar conta do barco. Pensou ela que já bastava de uma vida a limpar e a lavar palácios, que tinha chegado a hora de mudar de ofício, que lavar e limpar barcos é que era a sua vocação verdadeira, no mar, ao menos, a água nunca lhe faltaria. O homem nem sonha que, não tendo ainda sequer começado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada das baldeações e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma comportar-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo igual.
Andando, andando, o homem chegou ao porto, foi à doca, perguntou pelo capitão, e enquanto ele não chegava deitou-se a adivinhar qual seria, de quantos barcos ali estavam, o que iria ser o seu, grande já se sabia que não, o cartão de visita do rei era muito claro neste ponto, por conseguinte ficavam de fora os paquetes, os cargueiros e os navios de guerra, tão-pouco poderia ser ele tão pequeno que resistisse mal às forças do vento e aos rigores do mar, o rei também havia sido categórico neste ponto, Que navegue bem e seja seguro, foram estas as suas formais palavras, assim implicitamente excluindo os botes, as faluas e os escaleres, os quais, sendo bons navegantes, e seguros, conforme a condição de cada qual, não tinham nascido para sulcar os oceanos, que é onde se encontram as ilhas desconhecidas. Um pouco afastada dali, escondida por trás de uns bidões, a mulher da limpeza correu os olhos pelos barcos atracados, Para o meu gosto, aquele, pensou, porém a sua opinião não contava, nem sequer havia sido ainda contratada, vamos ouvir antes o que dirá o capitão do porto. O capitão veio, leu o cartão, mirou o homem de alto a baixo, e fez a pergunta que o rei se tinha esquecido de fazer, Sabes navegar, tens carta de navegação, ao que o homem respondeu, Aprenderei no mar. O capitão disse, Não to aconselharia, capitão sou eu, e não me atrevo com qualquer barco, Dá-me então um com que possa atrever-me eu, não, um desses não, dá-me antes um barco que eu respeite e que possa respeitar-me a mim, Essa linguagem é de marinheiro, mas tu não és marinheiro, Se tenho a linguagem, é como se o fosse. O capitão tornou a ler o cartão do rei, depois perguntou, Poderás dizer-me para que queres o barco, Para ir à procura da ilha desconhecida, Já não há ilhas desconhecidas, O mesmo me disse o rei, O que ele sabe de ilhas, aprendeu-o comigo, É estranho que tu, sendo homem do mar, me digas isso, que já não há ilhas desconhecidas, homem da terra sou eu, e não ignoro que todas as ilhas, mesmo as conhecidas, são desconhecidas enquanto não desembarcarmos nelas, Mas tu, se bem entendi, vais à procura de uma onde nunca ninguém tenha desembarcado, Sabê-lo-ei quando lá chegar, Se chegares, Sim, às vezes naufraga-se pelo caminho, mas, se tal me viesse a acontecer, deverias escrever nos anais do porto que o ponto a que cheguei foi esse, Queres dizer que chegar, sempre se chega, Não serias quem és se não o soubesses já. O capitão do porto disse, Vou dar-te a embarcação que te convém, Qual é ela, É um barco com muita experiência, ainda do tempo em que toda a gente andava à procura de ilhas desconhecidas, Qual é ele, Julgo até que encontrou algumas, Qual, Aquele. Assim que a mulher da limpeza percebeu para onde o capitão apontava, saiu a correr de detrás dos bidões e gritou, É o meu barco, é o meu barco, há que perdoar-lhe a insólita reivindicação de propriedade, a todos os títulos abusiva, o barco era aquele de que ela tinha gostado, simplesmente. Parece uma caravela, disse o homem, Mais ou menos, concordou o capitão, no princípio era uma caravela, depois passou por arranjos e adaptações que a modificaram um bocado, Mas continua a ser uma caravela, Sim, no conjunto conserva o antigo ar, E tem mastros e velas, Quando se vai procurar ilhas desconhecidas, é o mais recomendável. A mulher da limpeza não se conteve, Para mim não quero outro, Quem és tu, perguntou o homem, Não te lembras de mim, Não tenho idéia, Sou a mulher da limpeza, Qual limpeza, A do palácio do rei, A que abria a porta das petições, Não havia outra, E por que não estás tu no palácio do rei a limpar e a abrir portas, Porque as portas que eu realmente queria já foram abertas e porque de hoje em diante só limparei barcos, Então estás decidida a ir comigo procurar a ilha desconhecida, Saí do palácio pela porta das decisões, Sendo assim, vai para a caravela, vê como está aquilo, depois do tempo que passou deve precisar de uma boa lavagem, e tem cuidado com as gaivotas, que não são de fiar, Não queres vir comigo conhecer o teu barco por dentro, Tu disseste que era teu, Desculpa, foi só porque gostei dele, Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar. O capitão do porto interrompeu a conversa, Tenho de entregar as chaves ao dono do barco, a um ou a outro, resolvam-se, a mim tanto se me dá, Os barcos têm chave, perguntou o homem, Para entrar, não, mas lá estão as arrecadações e os paióis, e a escrivaninha do comandante com o diário de bordo, Ela que se encarregue de tudo, eu vou recrutar a tripulação, disse o homem, e afastou-se.
A mulher da limpeza foi ao escritório do capitão para recolher as chaves, depois entrou no barco, duas coisas lhe valeram aí, a vassoura do palácio e a prevenção contra as gaivotas, ainda não tinha acabado de atravessar a prancha que ligava a amurada ao cais e já as malvadas estavam a precipitar-se sobre ela aos guinchos, furiosas, de goela aberta, como se ali mesmo a quisessem devorar. Não sabiam com quem se metiam. A mulher da limpeza pousou o balde, meteu as chaves no seio, firmou bem os pés na prancha, e, redemoinhando a vassoura como se fosse um espadão dos tempos antigos, fez debandar o bando assassino. Foi só quando entrou no barco que compreendeu a ira das gaivotas, havia ninhos por toda a parte, muitos deles abandonados, outros ainda com ovos, e uns poucos com gaivotinhos de bico aberto, à espera da comida, Pois sim, mas o melhor é mudarem-se daqui, um barco que vai procurar a ilha desconhecida não pode ter este aspecto, como se fosse um galinheiro, disse. Atirou para a água os ninhos vazios, quanto aos outros deixou-os ficar, até ver. Depois arregaçou as mangas e pôs-se a lavar a coberta. Quando acabou a dura tarefa, foi abrir o paiol das velas e procedeu a um exame minucioso do estado das costuras, depois de tanto tempo sem irem ao mar e sem terem de suportar os esticões saudáveis do vento. As velas são os músculos do barco, basta ver como incham quando se esforçam, mas, e isso mesmo sucede aos músculos, se não se lhes dá uso regularmente, abrandam, amolecem, perdem nervo, E as costuras são como os nervos das velas, pensou a mulher da limpeza, contente por estar a aprender tão depressa a arte de marinharia. Achou esgarçadas algumas bainhas, mas contentou-se com assinalá-las, uma vez que para este trabalho não podiam servir a linha e a agulha com que passajava as peúgas dos pajens antigamente, quer dizer, ainda ontem. Quanto aos outros paióis, viu logo que estavam vazios. Que o da pólvora estivesse desmunido, salvo uns pozinhos negros no fundo, que primeiro mais lhe pareceram caganitas de rato, não lhe importou nada, de facto não está escrito em nenhuma lei, pelo menos até onde a sabedoria duma mulher da limpeza é capaz de alcançar, que ir em busca duma ilha desconhecida tenha de ser forçosamente uma empresa de guerra. Já a ralou, e muito, a falta absoluta de munições de boca no paiol respectivo, não por si própria, que estava mais do que acostumada ao mau passadio do palácio, mas por causa do homem a quem deram este barco, não tarda que o sol se ponha, e ele a aparecer-me aí a clamar que tem fome, que é o dito de todos os homens mal entram em casa, como se só eles é que tivessem estômago e sofressem da necessidade de o encher, E se já traz marinheiros para a tripulação, que são uns ogres a comer, então é que não sei como nos iremos governar, disse a mulher da limpeza.
Não valia a pena ter-se preocupado tanto. O sol havia acabado de sumir-se no oceano quando o homem que tinha um barco surgiu no extremo do cais. Trazia um embrulho na mão, porém vinha sozinho e cabisbaixo. A mulher da limpeza foi esperá-lo à prancha, mas antes que ela abrisse a boca para se inteirar de como lhe tinha corrido o resto do dia, ele disse, Está descansada, trago aqui comida para os dois, E os marinheiros, perguntou ela, Não veio nenhum, como podes ver, Mas deixaste-os apalavrados, ao menos, tornou ela a perguntar, Disseram-me que já não há ilhas desconhecidas, e que, mesmo que as houvesse, não iriam eles tirar-se do sossego dos seus lares e da boa vida dos barcos de carreira para se meterem em aventuras oceânicas, à procura de um impossível, como se ainda estivéssemos no tempo do mar tenebroso, E tu, que lhes respondeste, Que o mar é sempre tenebroso, E não lhes falaste da ilha desconhecida, Como poderia falar-lhes eu duma ilha desconhecida, se não a conheço, Mas tens a certeza de que ela existe, Tanta como a de ser tenebroso o mar, Neste momento, visto daqui, com aquela água cor de jade e o céu como um incêndio, de tenebroso não lhe encontro nada, É uma ilusão tua, também as ilhas às vezes parece que flutuam sobre as águas, e não é verdade, Que pensas fazer, se te falta a tripulação, Ainda não sei, Podíamos ficar a viver aqui, eu oferecia-me para lavar os barcos que vêm à doca, e tu, E eu, Tens com certeza um mester, um ofício, uma profissão, como agora se diz, Tenho, tive, terei se for preciso, mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és, O filósofo do rei, quando não tinha que fazer, ia sentar-se ao pé de mim, a ver-me passajar as peúgas dos pajens, e às vezes dava-lhe para filosofar, dizia que todo o homem é uma ilha, eu, como aquilo não era comigo, visto que sou mulher, não lhe dava importância, tu que achas, Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, Se não saímos de nós próprios, queres tu dizer, Não é a mesma coisa. O incêndio do céu ia esmorecendo, a água arroxeou-se de repente, agora nem a mulher da limpeza duvidaria de que o mar é mesmo tenebroso, pelo menos a certas horas. Disse o homem, Deixemos as filosofias para o filósofo do rei, que para isso é que lhe pagam, agora vamos nós comer, mas a mulher não esteve de acordo, Primeiro, tens de ver o teu barco, só o conheces por fora, Que tal o encontraste, Há algumas bainhas das velas que estão a precisar de reforço, Desceste ao porão, encontraste água aberta, No fundo vê-se alguma, de mistura com o lastro, mas isso parece que é próprio, faz bem ao barco, Como foi que aprendeste essas coisas, Assim, Assim como, Como tu, quando disseste ao capitão do porto que aprenderias a navegar no mar, Ainda não estamos no mar, Mas já estamos na água, Sempre tive a idéia de que para a navegação só há dois mestres verdadeiros, um que é o mar, o outro que é o barco, E o céu, estás a esquecer-te do céu, Sim, claro, o céu, Os ventos, As nuvens, O céu, Sim, o céu.
Em menos de um quarto de hora tinham acabado a volta pelo barco, uma caravela, mesmo transformada, não dá para grandes passeios. É bonita, disse o homem, mas se eu não conseguir arranjar tripulantes suficientes para a manobra, terei de ir dizer ao rei que já não a quero, Perdes o ânimo logo à primeira contrariedade, A primeira contrariedade foi estar à espera do rei três dias, e não desisti, Se não encontrares marinheiros que queiram vir, cá nos arranjaremos os dois, Estás doida, duas pessoas sozinhas não seriam capazes de governar um barco destes, eu teria de estar sempre ao leme, e tu, nem vale a pena estar a explicar-te, é uma loucura, Depois veremos, agora vamos mas é comer. Subiram para o castelo de popa, o homem ainda a protestar contra o que chamara loucura, e, ali, a mulher da limpeza abriu o farnel que ele tinha trazido, um pão, queijo duro, de cabra, azeitonas, uma garrafa de vinho. A lua já estava meio palmo sobre o mar, as sombras da verga e do mastro grande vieram deitar-se-lhes aos pés. É realmente bonita a nossa caravela, disse a mulher, e emendou logo, A tua, a tua caravela, Desconfio que não o será por muito tempo, Navegues ou não navegues com ela, é tua, deu-ta o rei, Pedi-lha para ir procurar uma ilha desconhecida, Mas estas coisas não se fazem do pé para a mão, levam o seu tempo, já o meu avô dizia que quem vai ao mar avia-se em terra, e mais não era ele marinheiro, Sem tripulantes não poderemos navegar, Já o tinhas dito, E há que abastecer o barco das mil coisas necessárias a uma viagem como esta, que não se sabe aonde nos levará, Evidentemente, e depois teremos de esperar que seja a boa estação, e sair com a boa maré, e vir gente ao cais a desejar-nos boa viagem, Estás a rir-te de mim, Nunca me riria de quem me fez sair pela porta das decisões, Desculpa-me, E não tornarei a passar por ela, suceda o que suceder. O luar iluminava em cheio a cara da mulher da limpeza, É bonita, realmente é bonita, pensou o homem, que desta vez não estava a referir-se à caravela. A mulher, essa, não pensou nada, devia ter pensado tudo durante aqueles três dias, quando entreabria de vez em quando a porta para ver se aquele ainda continuava lá fora, à espera. Não sobrou migalha de pão ou de queijo, nem gota de vinho, os caroços das azeitonas foram atirados para a água, o chão está tão limpo como ficara quando a mulher da limpeza lhe passou por cima o último esfregão. A sereia de um paquete que saía para o mar soltou um ronco potente, como deviam ter sido os do leviatã, e a mulher disse, Quando for a nossa vez faremos menos barulho. Apesar de estarem no interior da doca, a água ondulou um pouco à passagem do paquete, e o homem disse, Mas baloiçaremos muito mais. Riram os dois, depois ficaram calados, passado um bocado um deles opinou que o melhor seria irem dormir, Não é que eu tenha muito sono, e o outro concordou, Nem eu, depois calaram-se outra vez, a lua subiu e continuou a subir, em certa altura a mulher disse, Há beliches lá em baixo, o homem disse, Sim, e foi então que se levantaram, que desceram à coberta, aí a mulher disse, Até amanhã, eu vou para este lado, e o homem respondeu, E eu vou para este, até amanhã, não disseram bombordo nem estibordo, decerto por estarem ainda a praticar na arte. A mulher voltou atrás, Tinha-me esquecido, tirou do bolso do avental dois cotos de vela, Encontrei-os quando andava a limpar, o que não tenho é fósforos, Eu tenho, disse o homem. Ela segurou as velas, uma em cada mão, ele acendeu um fósforo, depois, abrigando a chama sob a cúpula dos dedos curvados, levou-a com todo o cuidado aos velhos pavios, a luz pegou, cresceu lentamente como faz o luar, banhou a cara da mulher da limpeza, nem seria preciso dizer o que ele pensou, É bonita, mas o que ela pensou, sim, Vê-se bem que só tem olhos para a ilha desconhecida, aqui está como as pessoas se enganam nos sentidos do olhar, sobretudo ao princípio. Ela entregou-lhe uma vela, disse, Até amanhã, dorme bem, ele quis dizer o mesmo doutra maneira, Que tenhas sonhos felizes, foi a frase que lhe saiu, daqui a pouco, quando lá estiver em baixo, deitado no seu beliche, vir-lhe-ão à ideia outras frases, mais espirituosas, sobretudo mais insinuantes, como se espera que sejam as de um homem quando está a sós com uma mulher. Perguntava-se se já dormiria, se teria tardado a entrar no sono, depois imaginou que andava à procura dela e não a encontrava em nenhum sítio, que estavam perdidos os dois num barco enorme, o sonho é um prestidigitador hábil, muda as proporções das coisas e as suas distâncias, separa ás pessoas, e elas estão juntas, reúne-as, e quase não se vêem uma à outra, a mulher dorme a poucos metros e ele não soube como alcançá-la, quando é tão fácil ir de bombordo a estibordo.
Tinha-lhe desejado felizes sonhos, mas foi ele quem levou toda a noite a sonhar. Sonhou que a sua caravela ia no mar alto, com as três velas triangulares gloriosamente enfunadas, abrindo caminho sobre as ondas, enquanto ele manejava a roda do leme e a tripulação descansava à sombra. Não percebia como podiam ali estar os marinheiros que no porto e na cidade se tinham recusado a embarcar com ele para ir à procura da ilha desconhecida, provavelmente arrependeram-se da grosseira ironia com que o haviam tratado. Via animais espalhados pela coberta, patos, coelhos, galinhas, o habitual da criação doméstica, debicando os grãos de milho ou roendo as folhas de couve que um marinheiro lhes atirava, não se lembrava de quando os tinha trazido para o barco, fosse como fosse era natural que ali estivessem, imaginemos que a ilha desconhecida é, como tantas vezes o foi no passado, uma ilha deserta, o melhor será jogar pelo seguro, todos sabemos que abrir a porta da coelheira e agarrar um coelho pelas orelhas sempre foi mais fácil do que persegui-lo por montes e vales. Do fundo do porão veio agora um coro de relinchos de cavalos, de mugidos de bois, de zurros de asnos, as vozes dos nobres animais necessários para o trabalho pesado, e como foi que vieram eles, como podem estar numa caravela onde a tripulação humana mal cabe, de súbito o vento deu uma guinada, a vela maior bateu e ondulou, por trás dela estava o que antes não se vira, um grupo de mulheres que mesmo sem as contar se adivinha serem tantas quantos os marinheiros, ocupam-se nas suas coisas de mulheres, ainda não chegou o tempo de se ocuparem doutras, está claro que isto só pode ser um sonho, na vida real nunca se viajou assim. O homem do leme buscou com os olhos a mulher da limpeza e não a viu, Talvez esteja no beliche de estibordo, a descansar da lavagem da coberta, pensou, mas foi um pensar fingido, porque ele bem sabe, embora também não saiba como o sabe, que ela à última hora não quis vir, que saltou para o cais, dizendo de lá, Adeus, adeus, já que só tens olhos para a ilha desconhecida, vou-me embora, e não era verdade, agora mesmo andam os olhos dele a procurá-la e não a encontram. Neste momento o céu cobriu-se e começou a chover, e, tendo chovido, principiaram a brotar inúmeras plantas das fileiras de sacos de terra alinhadas ao longo da amurada, não estão ali porque se suspeite que não haja terra bastante na ilha desconhecida, mas porque assim se ganhará tempo, no dia em que lá chegarmos só teremos que transplantar as árvores de fruto, semear os grãos das pequenas searas que vão amadurecer aqui, enfeitar os canteiros com as flores que desabrocharão destes botões. O homem do leme pergunta aos marinheiros que descansam na coberta se avistam alguma ilha desabitada, e eles respondem que não vêem nem de umas nem das outras, mas que estão a pensar em desembarcar na primeira terra povoada que lhes apareça, desde que haja lá um porto onde fundear, uma taberna onde beber e uma cama onde folgar, que aqui não se pode, com toda esta gente junta. E a ilha desconhecida, perguntou o homem do leme, A ilha desconhecida é coisa que não existe, não passa duma ideia da tua cabeça, os geógrafos do rei foram ver nos mapas e declararam que ilhas por conhecer é coisa que se acabou desde há muito tempo, Devíeis ter ficado na cidade, em lugar de vir atrapalhar-me a navegação, Andávamos à procura de um sítio melhor para viver e resolvemos aproveitar a tua viagem, Não sois marinheiros, Nunca o fomos, Sozinho, não serei capaz de governar o barco, Pensasses nisso antes de ir pedi-lo ao rei, o mar não ensina a navegar. Então o homem do leme viu uma terra ao longe e quis passar adiante, fazer de conta que ela era a miragem de uma outra terra, uma imagem que tivesse vindo do outro lado do mundo pelo espaço, mas os homens que nunca haviam sido marinheiros protestaram, disseram que ali mesmo é que queriam desembarcar, Esta é uma ilha do mapa, gritaram, matar-te-emos se não nos levares lá. Então, por si mesma, a caravela virou a proa em direcção à terra, entrou no porto e foi encostar à muralha da doca, Podeis ir-vos, disse o homem do leme, acto contínuo saíram em correnteza, primeiro as mulheres, depois os homens, mas não foram sozinhos, levaram com eles os patos, os coelhos e as galinhas, levaram os bois, os burros e os cavalos, e até as gaivotas, uma após outra, levantaram voo e se foram do barco transportando no bico os seus gaivotinhos, proeza que não tinha sido cometida antes, mas há sempre uma vez. O homem do leme assistiu à debandada em silêncio, não fez nada para reter os que o abandonavam, ao menos tinham-no deixado com as árvores, os trigos e as flores, com as trepadeiras que se enrolavam nos mastros e pendiam da amurada como festões. Por causa do atropelo da saída haviam-se rompido e derramado os sacos de terra, de modo que a coberta era toda ela como um campo lavrado e semeado, só falta que venha um pouco mais de chuva para que seja um bom ano agrícola. Desde que a viagem à ilha desconhecida começou que não se vê o homem do leme comer, deve ser porque está a sonhar, apenas a sonhar, e se no sonho lhe apetecesse um pedaço de pão ou uma maçã, seria um puro invento, nada mais. As raízes das árvores já estão penetrando no cavername, não tarda que estas velas içadas deixem de ser precisas, bastará que o vento sopre nas copas e vá encaminhando a caravela ao seu destino. É uma floresta que navega e se balanceia sobre as ondas, uma floresta onde, sem saber-se como, começaram a cantar pássaros, deviam estar escondidos por aí e de repente decidiram sair à luz, talvez porque a seara já esteja madura e é preciso ceifá-la. Então o homem trancou a roda do leme e desceu ao campo com a foice na mão, e foi quando tinha cortado as primeiras espigas que viu uma sombra ao lado da sua sombra. Acordou abraçado à mulher da limpeza, e ela a ele, confundidos os corpos, confundidos os beliches, que não se sabe se este é o de bombordo ou o de estibordo. Depois, mal o sol acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro, em letras brancas, o nome que ainda faltava dar à caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.


• José Saramago nasceu em 1922 na aldeia de Azinhaga (Golegã). Fez estudos secundários que, por dificuldades econômicas, não pôde prosseguir. Seu primeiro emprego foi o de serralheiro mecânico, tendo exercido depois, diversas outras profissões: desenhista, funcionário de saúde e de previdência social, editor, tradutor, jornalista.

• Publicou o seu primeiro livro, um romance, em 1947. Colaborou como crítico literário na revista "Seara Nova". Em 1972 e 1973 fez parte da redação do jornal "Diário de Lisboa". Pertenceu à primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, desde 1985 a 1994, presidente da Assembléia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi diretor-adjunto do jornal "Diário de Notícias". A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor.

• É Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Turim (Itália), de Sevilha (Espanha) e de Manchester (Reino Unido); membro Honoris Causa do Conselho do Instituto de Filosofia do Direito e de Estudos Histórico-Políticos da Universidade de Pisa (Itália); membro da Academia Universal das Culturas (Paris); membro correspondente da Academia Argentina das Letras; membro do Parlamento Internacional de Escritores (Estrasburgo).

• José Saramago foi laureado com o Prêmio Nobel da Literatura 1998 pela The Nobel Foundation.

• Principais obras:
· Ano da Morte de Ricardo Reis (O). Lisboa, Caminho, 1982.
· Ano de 1993 (O). Lisboa, Futura, 1975.
· Apontamentos (Os). Lisboa, Seara Nova, 1976.
· Bagagem do Viajante (A). Lisboa, Futura, 1973.
· Cadernos de Lanzarote I. Lisboa, Caminho, 1994.
· Cadernos de Lanzarote II. Lisboa, Caminho, 1995.
· Cadernos de Lanzarote III. Lisboa, Caminho, 1996.
· Cadernos de Lanzarote IV. Lisboa, Caminho, 1997.
· Cadernos de Lanzarote V. Lisboa, Caminho, 1998.
· Conto da Ilha Desconhecida (O). Lisboa, Expo'98/Assírio&Alvim, 1997.
· Deste Mundo e do Outro. Lisboa, Arcádia, 1971.
· Discursos de Estocolmo. Lisboa, Caminho, 1999.
· Ensaio sobre a Cegueira. Lisboa, Caminho, 1995.
· Ensaio sobre a Cegueira. Lisboa, Círculo de Leitores, 1995.
· Evangelho segundo Jesus Cristo (O). Lisboa, Caminho, 1991.
· História do Cerco de Lisboa. Lisboa, Caminho, 1989.
· In nomine Dei. Lisboa, Caminho, 1993.
· Jangada de Pedra (A). Lisboa, Caminho, 1985.
· Levantado do Chão. Lisboa, Caminho, 1980.
· Manual de Pintura e Caligrafia. Lisboa, Moraes Editores, 1976.
· Memorial do Convento. Lisboa, Caminho, 1982.
· Moby Dick em Lisboa. Lisboa, Expo'98, 1996.
· Noite (A). Lisboa, Caminho, 1979.
· Objecto Quase. Lisboa, Moraes Editores, 1978.
· Opiniões que o D. L. Teve (As). Lisboa, Seara Nova/Editorial Futura, 1974.
· Poemas Possíveis (Os). Lisboa, Portugália, 1966.
· Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido, 1979
· Provavelmente Alegria. Lisboa, Livros Horizonte, 1970.
· Que farei com este livro? Lisboa, Caminho, 1980.
· Segunda Vida de Francisco de Assis (A). Lisboa, Caminho, 1987.
· Terra do Pecado. Lisboa, Minerva, 1947.
· Todos os Nomes. Lisboa, Caminho, 1997.
· Viagem a Portugal. Lisboa, Círculo de Leitores, 1981.


• Prêmios recebidos:

· Prêmio Internacional Literário Mondello (Palermo), 1992 (Conjunto da Obra).
· Prêmio Literário Brancatti (Zafferana/Sicília), 1992 (Conjunto da obra)
· Prêmio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (APE), 1993
· Prêmio Consagração SPA (Sociedade Portuguesa de Autores), 1995
· Prêmio Nobel da Literatura, 1998.

• Suas obras são publicadas em diversos países. Seu romance "Memorial do Convento" foi adaptado para a ópera pelo compositor italiano Azio Corghi, com o título "Blimunda".

• A peça de teatro "In Nomine Dei" foi adaptada para a ópera por Azio Corghi, com o título "Divara".

• O texto acima foi extraído do livro "O Conto da Ilha Desconhecida", Companhia das Letras - São Paulo, 1998, com aquarelas de Arthur Luiz Piza.