Há vários anos, trabalho com homens e mulheres em Terapia de Vidas Passadas e quase sempre a sessão é muito reveladora. As pessoas se sentem confortáveis para falar de suas vidas, de suas escolhas e de sua forma de amar. Aliás, amor dá sempre muito assunto porque as pessoas estão sempre sofrendo por conta disso. Às vezes, porque amam demais e acabam se sentindo rejeitadas, o que faz com que muita gente saia de relacionamentos que consideram com pouco ou nenhum sentimento amoroso.
Mas será que existe um relacionamento realmente que nos complete? Ou será que apesar de todo conhecimento, abertura para coisas modernas como se relacionar pela internet, ainda continuamos esperando a alma gêmea?
Nesta semana, atendi várias pessoas nessa sintonia de carência por amor, e um profundo desejo de aceitação que quando não satisfeito se transforma em raiva, mágoa e ressentimento.
Júlia, psicóloga, bem sucedida, contou-me que ainda espera o amor após ultrapassar o número assustador de 5 casamentos. Claro que cada um sabe do seu mundo, dos seus desafios, das suas dores. Inclusive, devo dizer que a terapia ajuda demais a compreendermos que, de fato, cada pessoa tem o seu desafio na vida. Às vezes, a pessoa é afortunada em alguma área, mas, em outras fica patinando, sem conseguir se expressar ou se sentir completa e feliz. Era o caso dessa moça, beirando os 50 anos, de aparência jovial que carregava os olhos mais melancólicos que já vi. Objetivamente, não tinha motivos para ser tão triste, foi casada, foi amada, teve filhos, estudou, fez uma carreira...
A sessão mostrou uma jovem sonhadora que descobre que o marido saía com outras mulheres; sem mostrar que sabia do fato, sob pressão de um padrão antigo de realcionamento, onde as mulheres não tinham voz ativa; assim, ela se calou e guardou para si todos os desencantos. Fez de conta que era feliz, mas se sentia totalmente magoada. Jurou vingança, mas naquela vida nada fez. Apenas seguiu as convenções. Isso explicou sua forma de agir no momento atual, abrindo o coração, acolhendo, casando, e depois se separando sem dar muita chance para entendimentos e transformação da relação. Porque todas as relações podem se transformar.
É certo que hoje a vida é diferente, e que podemos nos separar quando não formos felizes, mas tudo tem um preço, um custo emocional, e precisamos pensar nos prós e nos contras. A vida é feita de uma seqüência de escolhas.
O que não podemos é fantasiar um parceiro ideal, alguém que nos arrebate de paixão, e que nos traga tudo aquilo que não temos.
Essa história de um amor que precisa nos completar pode trazer muita decepção. Porque as pessoas são únicas, cada uma tem algo especial, e também tem carências e erros dentro de si. Assim, num encontro afetivo quanto mais harmonizados e trabalhados no sentido da auto-aceitação, melhor. Porque dois incompletos, sofredores e carentes, somarão pessoas complicadas, infelizes e uma relação fadada a muitos tropeços.
O outro não tem como aliviar a nossa dor. Aquilo que precisamos resolver internamente é nosso compromisso, e não deve ser um peso que transferimos para alguém resolver.
[Maria Silvia Orlovas]
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