Para que servem as paixões arrebatadoras, se são experiências afetivas comparáveis ao fogo de palha que queima rapidamente? Quais aprendizados podemos tirar dessas experiências de nível sentimental intenso?
Muito se tem falado e escrito sobre as paixões "fulminantes" que tornam o indivíduo cativo de seus caprichos, sejam as paixões correspondidas, as não correspondidas ou as consideradas platônicas.
Paixão é sentimento que agindo de forma invasiva hipnotiza, domina e expõe as emoções, levando, muitas vezes, o apaixonado a cometer atos nunca antes imaginado.
Quando nos apaixonamos, vivenciamos uma experiência fragmentada, repleta de "fragmentos" sentimentais não resolvidos de muitas vidas, que se juntam na tentativa de satisfazer necessidades latentes de âmbito afetivo.
Somos dependentes do amor fragmentado porque não o compreendemos no seu sentido mais amplo. Nos conformamos em viver de migalhas de um sentimento passional, sem, muitas vezes, sermos correspondidos pela mesma intensidade passional da outra pessoa. Por este motivo, são inúmeros os casos que levam os envolvidos ao desespero e aos desequilíbrios psíquico-espirituais que causam transtornos às famílias, e que, invariavelmente, acabam em dramas ou tragédias.
As paixões arrebatadoras, geralmente, terminam com um final infeliz, com uma das partes envolvidas sentindo-se traída em seus sentimentos, abandonada e rejeitada. Porém, nem tudo nas experiências afetivo-passionais intensas, significa infelicidade, sofrimento e dor. São os aprendizados que servem para equilibrar as nossas emoções. O discernimento, por exemplo, funciona como instrumento que avalia o nível de envolvimento emocional da experiência e emite sinal de alerta se a pessoa estiver "repetindo a dose" em novo relacionamento amoroso. Temos também como exemplo de aprendizado, a sensibilidade adquirida com a elaboração das experiências de dor ou amor que envolveu a relação passional. Sensibilidade que poderá nos levar à compreensão da grandeza do amor até então incompreendido...
De uma compreensão de amor fragmentado, exclusivista, "meu", precisamos evoluir para a concepção de um amor expansivo, inclusivista, "nosso". Por ainda estarmos "fechados" na experiência das sensações físicas e dependentes de suas gratificações de âmbito restrito, nos tornamos cativos de nossas necessidades latentes, sem perceber que possuímos potencialidades que se desenvolvidas nos propiciarão uma visão de vida bem acima da limitada compreensão que ainda temos do amor.
Portanto, no contexto vital das reencarnações, as paixões que arrebatam tem o sentido do aprendizado, isto é, do aprendiz que reprovado mais uma vez de ano e cansado de repetir as mesmas lições, resolve mudar a sua atitude na escola, adquirindo uma nova percepção em relação à importância que o educandario tem para a sua vida presente e futura.
Somente com o amadurecimento emocional, baseado em experiências bem elaboradas no âmbito do relacionamento afetivo, que o indivíduo desenvolve uma percepção mais lúcida do amor. Ponto de partida para que a sua visão amplie-se através do processo de autoconhecimento.
Quando estivermos com o nosso interior pacificado e livre de demandas (carências) afetivas ou de sentimentos que nos desarmonizam, teremos a compreensão do amor acima das paixões efêmeras. Nível consciencial que nos esclarece a respeito dos sentimentos não resolvidos, que são feridas que não curam com o ciclo das paixões arrebatadoras, mas ao contrário, pois em cada experiência passional abrem-se ainda mais as chagas, revelando a dor dos sentimentos que permanecem sem resolução, num interminável ciclo de desequilíbrios na área afetiva.
A paixão arrebatadora, ao propiciar prazer aos envolvidos, inebria o espírito e o corpo de agradaveis sensações físicas. No entanto, é como o vício que depende do ato repetitivo para propiciar novas sensações prazeirosas, até que o fastio provocado pela repetição, direciona o "viciado" em busca de outro objeto do desejo. Objeto que na verdade, torna-se a transferência daquilo que carregamos como não resolvidos na esfera afetivo-sentimental.
Portanto, após séculos de repetidas experiências no âmbito das paixões, é compromisso do indivíduo que desperta para o amor maduro, transcender às ilusões que o tornam cativo dos prazeres efêmeros.
[Flávio Bastos — Psicoterapeuta Interdimensional]
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