Um problema para alma
Jamais em nenhum momento da presença do ser humano na Terra foi atingido, como hoje, a realização das suas esperanças mais queridas.
As descobertas científicas e os avanços tecnológicos nos permitem avaliar o dia em que todos terão o que comer, em que o ser humano formará uma comunidade unificada e não mais viverá como entidades separadas. Milhares de anos foram necessários para esta evolução, afim de que o ser humano pudesse desenvolver a capacidade de se organizar socialmente e concentrar suas energias num sentido definido. O homem criou um novo mundo com suas leis e destino. Olhando para a sua criação, como fez Deus, no sétimo dia de descanso, ele também tem o direito de sentir que está perto de atingir uma grande meta.
Mas se olhar para si mesmo, o que terá ele de admitir? Terá por acaso atingido a realização do outro sonho da humanidade: o alcance da perfeição pessoal? Terá por acaso aprendido a amar o próximo como a si mesmo, a ser justo, a conhecer a verdade e a compreender que, potencialmente é feito à imagem e semelhança de Deus?
Tais perguntas tornam-se embaraçosas, pois a resposta que se impõe é dolorosamente difícil de responder. Temos criado coisas maravilhosas, mas teremos merecido realizações tão grandiosas? Não temos uma existência caracterizada por fraternidade, felicidade e contentamento; ao contrário, vivemos num caos espiritual e num estado de confusão em meio às fronteiras com a ansiedade, com a depressão e a solidão; podemos está à beira da loucura, não aquela loucura nervosa, mas um estado semelhante à estafa mental e decepcionado por si próprio, em que vai se achar perdido o contato com a realidade interior e a vida intelectual está adversa da afetiva.
Hoje, os fiéis vão à igreja e escutam sermões que falam dos princípios de amor e caridade ao próximo; entretanto, os mesmos se considerariam tolos se perdessem um bom negócio, embora sabendo que o melhor seria se negar ao negócio, os oradores acabam levando seus rebanhos a viajar mais pelo exterior do que para interior.
Possuímos em nosso interior um líder apagado pelos lideres externos e isso nos tira a liberdade. Acabamos vivendo a vida concentrados em atrativos externos deixando escapar nossa própria essência. O que mais assusta é a dolorosa expressão de ansiedade e sofrimento, como se estivessem presenciando um acidente, quando, na realidade, trata-se apenas de pessoas que transitam no cumprimento das suas obrigações diárias.
Adquirimos a certeza que a nossa vida é mais afortunada que a de nossos antepassados; ensinamos a nossos filhos que o futuro da humanidade dependerá deles, já colocando em cima da juventude a responsabilidade que não tivemos: "cuidar do planeta, a impaciência com os idosos, a impaciência com as crianças, as críticas generalizadas, a falta da religiosidade e também de amor ao próximo, todos são exemplos que estamos transmitindo e cobrando um futuro pelo qual não fazemos nada para mudar.
Mas será que nossos filhos têm a intuição segura da finalidade de suas vidas? Como todos os seres humanos, sentem que a vida deve significar alguma coisa, deve ter um sentido, mas qual é ele? Acaso encontrarão um objetivo nas declarações contraditórias e no cinismo resignado com que se deparam por todos os lados? Anseiam pela felicidade, pela verdade, pela justiça, por amor, por um objeto ao qual possam dedicar os seus esforços. Somos nós capazes de satisfazer as suas aspirações?
No momento, sentimo-nos tão impotentes e sem direção quanto eles. Não sabemos responder, porquanto já desistimos até de perguntar. Fingimos que a nossa vida repousa sobre alicerces sólidos e fechamos os olhos às sombras da ansiedade, insegurança e confusão que nos cercam.
Acredito que alguns encontram a resposta num retorno à religiosidade, que ao despertar do seu coração a fé, procuraria mais curar seu interior do que satisfazer seus anseios tecnológicos.
Não se trata de uma decisão inspirada pela devoção, mas pela necessidade de segurança, de cura. O observador que se interessar mais pela felicidade do coração, pelo engrandecimento do poder espiritual se sentirá mais leve e mais livre para abençoar a sim mesmo e escapar das ansiedades de obter o que a tecnologia ainda vai pôr na mesa. Chega!... Não podemos trocar o verdadeiro amor ao próximo, pelas loucuras da falsa felicidade que nos deixam apáticos ao ver tamanho prazer material, satisfazendo aos olhos e a mente, mas sem transcender a vontade do coração. Será tarefa nossa e, ao mesmo tempo, os espíritos estarão nos despertando, orientando para a religiosidade e a cura interior para equilibrar os anseios tecnológicos da necessidade do coração.
Os que procuram a solução pela volta à espiritualidade não poderá deixar-se arrastar por uma formulação freqüentemente proposta defensores dos diferentes credos, a saber, que é preciso escolher entre viver para o bem ou viver bem. Quando se vive para o bem, vivemos para a humanidade e quando se vive para viver bem, estamos vivendo para si próprio, um tipo de vida caracterizada apenas pela satisfação das necessidades do conforto material.
Pode parecer até que as únicas pessoas que se interessam pelo bem-estar sejam os políticos, os sacerdotes e ministros religiosos.
Falsa realidade... Vemos mais pessoas comuns à procura da cura interior do que os que pregam a felicidade.
[Bernardino Nilton Nascimento]
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