quinta-feira, 12 de agosto de 2010

POEMIAS

Coisas banhadas de adeus
[Por Leticia Cordeiro]

As coisas banhadas de ilusão foram acabando entre eu e você.
Por etapas alquímicas de paz fui te deixando.
A atração entre nós, sempre ficou amarrada nesta cumplicidade invisível do olhar. Isto era sempre um anexo do querer e do estar a fim.

As coisas foram minguando entre eu e você... O teu pequeno mundo de horrores já não me interessava tanto. Tive receio de continuar participando do teu labirinto de verdades mortas em mais um encontro.
Foi por isso que disse adeus dentro do silêncio.
Foi mais fácil deixar tua alma nua num beco sem saída de rua chuvosa, esperando o meu abraço, do que tu veres a dor que me causas por eu te amar além dos desejos e ter que deixar tua alma quase sem saída, perdida nas ilusões do apego.

O teu drama diário de um sedutor ordinário causou-me náuseas de tanto que eu te buscava para uma partilha de cama molhada.
Falta-me coragem para encarar esse último adeus e ir ao meu encontro, sem você me esperando no território que costumávamos chamar ‘dentro um do outro’ ou ‘nós dentro de nós’.

Eu sei — o drama da minha dor mal começou! A noite escura se inicia. Porque tudo entre nós começou mergulhado nesse silêncio, foi vivido engolfado de silêncio e está morrendo embevecido em silêncio, inundando a minha existência em emoção, abandono e nesse vazio fragmentado cheio de desesperança.

O que posso te dizer depois da experiência do amor omitido? Me sinto como um pássaro sem penas engaiolado numa fuga por te querer demais.
A nossa abstenção do dizer está sendo sentida na minha alma como uma busca perigosa de algo que eu pré-sentia que não podia encontrar em você! A integração que outrora vivenciamos, como o uno, está se perdendo neste adeus,nesta noite de lágrimas.
Mais ausente de fala e desencontrado de si foi você nesta relação. Nas noites profundas de nosso encontro amoroso você se tornou o arlequim triste que não me fazia mais rir.
O homem que perdia as asas de anjo e a força mágica levitativa do amor.

Não sei quando a magia foi se transformando numa prestação de conta com a descrença de futuro.

Você sempre me garantiu cama, mas uma dama deseja a delicadeza de um porre amoroso com doces beijos e olhares atentos ao encantamento da junção de almas do encontro. Eu sei que você fugia da prisão que pode se tornar o amor. Eu também fugia ...

Agora, eu me aprisiono nesta insegurança do perigo de buscar o desconhecido. Cresço neste desapego de ti e caminho para as novas possibilidades que surgirão neste meu desafio.
Eu amarei pedras. Eu amarei ruínas. Eu amarei derrotas.Farei alquimias com bruxas e beberei a água salgada do mar.Tudo para não mais sentir a fome que você me ensinou a saciar no teu corpo.Eu preciso encontrar o sossego longe dos teus braços. E garantir um futuro só,mas,pelo menos, longe da agonia de querer insaciavelmente você. Escuta esse desabafo
como o último grito de alguém que cansou de pedir socorro e querer ser salva. Eu só quero ser grata. Eu quero mais dessa certeza fria que rasga o peito por ter certeza demais, por estar certa demais e porque eu não quero voltar no tempo das ilusões já perdidas.

Estou tentando transformar essa derrocada amorosa em uma aventura de auto-crescimento. E não te culpar por essa impotência cheia de adeus.
Através do sofrimento estou lançando esse amor rumo ao céu.
Que ele seja atemporal!
E que mesmo dentro desse caos emocional em que me encontro eu encontrarei luz no final dessa noite das rupturas definitivas.
O alvorecer me aguarda, por isso, essa noite parece ser eterna, interminável e escura, insuportável de adeus.
[Enviado por Rose Diehl]

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