por Mauro Kwitko
Antigamente, quando eu era jovem (de “casca” jovem), utilizei mal uma das maiores forças que o ser humano pode ter, que é a indignação. Eu a utilizei, como havia feito em várias encarnações passadas, da maneira equivocada como muitas pessoas fazem: negativamente.
Para dar uma idéia, em uma vida passada abandonei tudo, totalmente descontente com o mundo e fui morar isoladamente em uma floresta, até que a minha família de então, acreditando que eu estava louco, mandou me internar em um hospital psiquiátrico, ou algo semelhante naquela época, de onde saí somente após morrer, quando percebi um homem brilhante ao meu lado, onde estivera o tempo todo sem eu o ter percebido. Ele me deu a mão e me levou para o Mundo Espiritual, onde percebi meu erro: haver me indignado negativamente.
Na minha encanação anterior a essa, fui um escritor russo de “sucesso”, alcoolista, movido pela indignação negativa. Na vida atual, até uma certa fase dela, eu me movia entre a indignação negativa e a busca de isolamento para encontrar “paz”, que só encontrava no silêncio do meu quarto, entre os livros, o violão, a música.
Usei algumas substâncias prejudiciais, porque eu ainda era o mendigo, ainda era o escritor russo e era eu, hoje em dia. Até que a vida foi me amadurecendo e hoje em dia – no 1/3 final dessa encarnação – eu não como carne, não fumo, não bebo, não uso nenhuma substância prejudicial a mim e à minha Consciência, não me isolo mais. Encontrei a paz na convivência, no trabalho com meus irmãos e irmãs, na Yoga, na Meditação e posso dizer para aquele homem brilhante que me conhece há tanto tempo: Finalmente aprendi!
Atualmente, o que quero é transmitir através dos Cursos, dos trabalhos (que viemos fazendo em Centros Espíritas com pessoas que usam substâncias prejudiciais), dos Hinos espirituais, dos livros que viemos escrevendo (principalmente no ainda inédito que sairá em breve) às pessoas indignadas que utilizem essa força positivamente: a Indignação Positiva.
No século 16, um escritor chamado Thomas More (1478-1535) discípulo de Erasmo, lançou um livro chamado “A Utopia”, uma ilha onde as coisas eram mais ou menos assim: Thomas More era filho de juízes do banco dos reis, com quinze anos virou pajem do cardeal Morton, da Cantuária. Foi um pensador humanista, otimista em relação à solução dos problemas, pensando que bastava para isso bem conduzir a razão e obedecer a natureza. Era como um discípulo de Erasmo, que dedicou a ele seu principal livro “Elogio da Loucura”. Mantiveram correspondência. Thomas More chegou a chanceler da Inglaterra e escrevia para Erasmo: “Não podes avaliar com que aversão me encontro nesses negócios de príncipe, não há nada de mais odioso do que essa embaixada.” Seu principal livro é um livro político, “A Utopia”, que em grego significa “não lugar, lugar que não existe”. A Utopia é uma ilha afastada do continente europeu. A Ilha de Utopia abarca a sociedade ideal e esse termo depois virou sinônimo de coisa ideal, mas inatingível. Pode-se considerar o termo utopia como o sinônimo de uma coisa boa, porém não alcançável.
Mas, no início do século XIX, era considerada uma utopia a escravidão acabar ou o homem voar e isso acabou ocorrendo depois. Thomas More admirava Platão e tirou a inspiração para “A Utopia” da “República”. Toda a sociedade utopiana é familiar, a Ilha é uma “Grande Família”. Na história do livro, as pessoas são pacíficas. More era como Erasmo, achava o cristianismo bom em seu princípio, mas acreditava que sua mensagem fora deturpada através dos séculos. Para More, “torceram o evangelho como se fosse uma lei de chumbo, para modelá-lo segundo os maus costumes dos homens”. Uma sociedade justa deveria ter leis pouco numerosas (More era advogado) e as riquezas repartidas. A principal crítica social de More gira em torno da abolição da propriedade privada. Adverte que a igualdade seria impossível com a propriedade. E foi um dos primeiros a atacar a propriedade na era cristã.
Na República de Platão e na Utopia de More, os cidadãos adotavam um regime de comunhão de bens. A Utopia é uma ilha em forma de semi-círculo, de quinhentas milhas de arco. Tem uma fortaleza e é inacessível para quem não é nativo, pois existem poucos caminhos que escapam dos rochedos. Existem 54 cidades. Na capital, são trinta famílias com quarenta indivíduos cada. Cada família é dirigida por uma “Filarca”, ou aquela que ama. Existe renovação anual do trabalho agrícola, uma das principais atividades. Todos os meses há uma festa. Tem mel e sucos de frutas. Fazem música nas horas de lazer, além de outras coisas. Nas cidades da Utopia, grande parte das casas são de três andares. Tem palacetes também. Eles são governados por um príncipe. Todas as crianças são educadas nas escolas. Além de agricultores, os utopianos são tecelões, pedreiros, oleiros e carpinteiros. As mulheres trabalham nos serviços mais leves, como a tecelagem. Todos usam as mesmas roupas. Vestir roupas luxuosas é censurável, pois elas incitam a desigualdade e a falsa superioridade. A vaidade, no livro é criticada em diversos aspectos. O trabalho não é esgotante, são seis horas por dia, mas todos trabalham. Dessa forma, não são as massas trabalhadoras que tem que fazer o trabalho dos vagabundos e parasitas, como por exemplo certos nobres e religiosos. As crianças obedecem aos pais e todos respeitam os mais velhos. More critica o orgulho e a vaidade, que levam ao luxo supérfluo. Efetivamente, diz que todos os países do mundo adotariam o regime de Utopia se não fosse o orgulho, “esse pai de todas as pestes”. Utopia não tem dinheiro. Existem hospitais e médicos, apesar destes serem pouco requisitados, pois todos são saudáveis. É uma das profissões mais respeitadas. O prazer não está ligado ao luxo. Esse leva a um “falso prazer”, que deve ser descartado, por ser na verdade desagradável. O verdadeiro prazer pode ser mental ou corporal. Um prazer mental, pode vir por exemplo quando se compreende uma coisa. O principal prazer corporal é a saúde contínua. A saúde perfeita tem equilíbrio entre todas as partes do corpo. O bem individual é submetido ao bem geral. Tem ouro e prata importados, mas esses estão abaixo dos ferros, e não são valorosos. Na religião, acreditam na imortalidade da alma. Deus existe e recompensa a virtude. Os utopianos acreditam em felicidade após a morte, por isso não choram os mortos, só os doentes. A virtude se consegue vivendo segundo a natureza. A razão leva à adoração de Deus, os dois estão em comunhão. Só existimos por causa de Deus. A religião de Utopia funciona como uma espécie de regulador social, pois é do temor a Deus que advém a busca por justiça. Pois, se não pensarmos em uma vida após onde seremos julgados, todos buscarão todas as espécies de prazer, sem nenhum limite. A caça é proibida, por ser considerada crueldade. Todos concordam que existe um ser supremo. Os materialistas são desprezados como resultado de uma natureza inerte e impotente. A guerra na Utopia é motivo de vergonha, mas às vezes é necessária. Todos são treinados para defender a República em caso de guerra. Mas são pacíficos. Os sacerdotes rezam primeiro pela paz e depois pela vitória de Utopia. Ninguém busca a glória no campo de batalha. Na ilha, todos estão em casa em qualquer cidade. Viajam com um visto do príncipe. As cidades não são muito distantes. E apesar de ninguém ter nada, todo mundo é rico. Nos centros das casas são depositados materiais de primeira necessidade produzidos, que são pegos pelos pais de famílias.
More ergueu seu protesto, principalmente contra as injustiças da Inglaterra de Henrique VIII. Atacou a monarquia e as instituições, bem como a vida de luxos inúteis em cima do trabalho de outros. Morreu decapitado em 1535.
A indignação é uma arma poderosa, infelizmente com frequência utilizada de modo negativo, principalmente pelos jovens, mas também por adultos inconformados com a maneira como nossa sociedade está estruturada, com o que se transformou a nossa vida, e com a impressão equivocada de que somos incapazes de mudar, de transformar as coisas, de alterar profundamente para melhor o mundo todo.
A Indignação Positiva é uma arma pacífica extremamente poderosa e todos podemos utilizá-la. Basta cada um de nós se negar a continuar sendo marionete nas mãos dos donos da nossa sociedade, dos donos da nossa opinião e começarmos a exercer o que é de nosso direito: comer o que percebermos que é bom para nós, bebermos apenas o que é saudável, olharmos os programas de televisão e decidirmos se é melhor pegar um bom livro, ou fazer uma meditação, ou conversar com a família, com os amigos, com os filhos, ouvirmos apenas as músicas que vale a pena, que transmitem mensagens positivas, endereçadas aos nossos chakras superiores e não apenas aos nossos aspectos mais inferiores (sexualidade e relações afetivas egóicas).
Enfim, cada um de nós pode se tornar um formador de sua própria opinião, responsável pela sua encarnação, seu Espírito, suas metas evolutivas e, principalmente, pelo seu Templo, com cuidado e atenção.
A Indignação Positiva é a maior força que nós temos. Nos unirmos em torno dela e mudarmos o mundo é nossa obrigação social e espiritual. Vamos transformar o planeta em algo parecido com o Nosso Lar. Quem vai nessa?
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