quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

ARMAS DO PACIFICADOR

 "Bem aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus."
— Jesus —


Há pouca coisa mais importante do que a Paz, se é que existe alguma. O próprio prazer, a satisfação e a felicidade só se expressam em plenitude e perduram quando respaldados e experienciados sob as asas da Paz. Mesmo a aclamada liberdade ou a saúde perdem muito de seu brilho quando desacompanhadas da paz e na falta da paz ambas não sobrevivem.
Por mais que nos estressemos com atritos, explosões de ira, agressões verbais e físicas ou com intermináveis brigas encenadas mentalmente, o que em última instância anelamos é Paz.  Quem me dera ter Paz! É o suspiro doído que brota das entranhas de incontáveis corações. Por estas e tantas outras razões, precisa-se de pacificadores que atuem em todas as áreas das relações humanas. O salário é a própria paz e esta não tem preço.
Para Jesus, os pacificadores fazem parte de uma "tropa de elite" em cujo regimento encontram-se o "humilde de espírito", "os que choram", "os mansos", "os que têm fome e sede de justiça", "os misericordiosos" e "os limpos de coração". Tal corporação submete-se a exercícios e técnicas de esvaziamento, de individuação; são treinados a reconhecer a voz divina em seus próprios corações, desenvolvendo assim a irresistível força da humilde. Estão sempre alerta em relação às perdas que podem ser infligidas pelo orgulho, arrogância e soberba. Para isso monitoram as possíveis rebeliões do ego, cuidando para mantê-lo em harmonia com o Self, em submissão aos domínios da Alma.
Além da coragem e da força, possuem segurança interna que os permite deixar correrem livres as lágrimas, ao perceberem que seus maiores inimigos e suas maiores batalhas precisam ser travadas contras suas próprias sombras. Usam, no entanto, estas mesmas lágrimas como fonte de consolo, como bálsamo com o qual amorosamente lavam e tratam as feridas causadas por estas angustiantes lutas interiores.
Perseveram valorosamente na trincheira da mansidão, resistindo com nobre bravura aos mais variados ataques. Assim conquistam admiração, respeito e amor, o que os leva a ocuparem espaço cada vez maior no coração das pessoas com as quais convivem. Percebem que a truculência é a arma do fraco, com a qual tenta camuflar o sentimento de inferioridade e a própria insegurança. 
Desenvolvem um paladar refinado, um olfato apurado que, como uma bússola, os mantém na direção de tudo que cheira justiça, que tem o sabor da Verdade, que é temperado com a universal e divina Lei do Amor.
Movem-se com o cauteloso cuidado da misericórdia por saberem que no terreno minado da existência humana há muitos buracos causados pela ignorância, pela maldade, pelas múltiplas expressões da miséria, carentes de ser preenchidos por corações repletos de compaixão.
E por saberem que precisam usar, sobretudo, o coração, buscam cuidar bem dele mantendo-o limpo, em paz, iluminado com a Luz de Cristo. Assim, são capazes de enxergar as manifestações divinas, mesmo nas mais densas noites.
Estes soldados do Reino desenvolvem e colocam em prática táticas arquitetadas com os recursos da inteligência emocional e espiritual. Com elas, diluem na solução da compreensão amorosa injúrias e difamações e, como recompensa, não lhes faltam motivos de comemoração, de regozijo, de exultante alegria. Aos integrantes desta tropa de elite, o Mestre Jesus faz referência chamando-os bem aventurados. Deste grupo de operações especiais, faz parte o pacificador.
Como os demais, o pacificador desenvolve práticas de não confrontação, de proatividade, resistência pacifica, da arte da paz, que lhe permitem resistir bondosamente e ser bem sucedido em suas incursões nos traiçoeiros domínios dos inimigos da alma. Para tal, faz uso de três poderosas armas de combate. São elas: Prontidão para ouvir, falta de pressa para falar, pressa nenhuma em se irar. Diligentemente, submete-se a ordem Superior que assim determina: "Todo o homem, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar".
Um pacificador é um construtor de pontes, reparador de brechas, apagador de incêndios, encurtador de distância, restaurador de relacionamentos. É facilmente reconhecido como um Filho da Luz. Não é, entretanto, partidário da paz a qualquer preço, ainda que seja capaz de pagar preço alto para que haja paz. A paz que busca não é a paz de cemitério, onde sob a superfície a morte impera, e sim a paz de cujo solo a vida floresce.
Não somos ensinados a ouvir! Nascemos com dois desafios básicos e urgentes: aprender a andar e aprender a falar. Talvez por isso a dificuldade de parar para ouvir. Raramente os adultos ouvem as crianças. Basta olhar o empenho com o qual elas buscam atenção apesar de, geralmente, acabarem submetidas aos gritos dos adultos. E aí quem grita por ultimo grita pior!
Quando alguém é perito na arte de ouvir liberta-se da compulsão do falar e deixa de olhar o ouvido alheio como território a ser conquistado. Um pacificador possui na arte de ouvir seu mais eficiente e fiel escudeiro. Com tal respaldo, fica livre para dar atenção, valorizar, compreender, reconhecer, entender e respeitar os que necessitam ser ouvidos. Lembrando Rubem Alves, "De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver  juntos e da cidadania é a audição. No princípio era o Verbo; Antes do Verbo  era o silêncio. É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar."
O pacificador, por ser um bom ouvinte, fala usando menos palavras e mais sabedoria. Sua palavras, no entender do sábio rei Salomão, são "como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo"; isto é, possui arte, beleza, valor e momento oportuno. "São agradáveis como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo".
Ouvindo e falando com amor e sabedoria, o pacificador, este reconhecido filho de Deus, dificilmente alimentará a ira, seja no semelhante, seja em si mesmo.  Ele integra a "tropa de elite" empenhada em alargar as fronteiras da Paz.
[Oliveira Fidelis Filho]

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