terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ACEITAR E VIVER A REALIDADE


Algumas vezes, quando conseguimos entrar em contato com a realidade, logo em seguida, voltamos ao nosso velho estado de inconsciência e conseqüente insatisfação. O motivo disto é a não aceitação da realidade constatada e a sensação "incômoda" que esta experiência nos traz. Aceitar a realidade nos leva a vivê-la, sem ilusões, confrontando a vida com consciência e responsabilidade. Com exceção das pessoas que despertaram sua consciência plenamente e, de verdade, aprenderam a viver a realidade, é praticamente impossível, encontrarmos um ser humano, vivendo na dualidade, que saiba lidar com a realidade de forma sábia e coerente. 
Sofremos tanto vivendo as dores da ilusão e nem sequer imaginamos que essas dores acontecem justamente porque são ilusórias. Mas, na dualidade, nossa dor é tão intensa e "tão real", e os motivos pelos quais sentimos dor também nos parecem tão reais, justificáveis e verdadeiros, que realmente é muito difícil, até mesmo imaginar, que tudo não passa de ilusão. Nossos pensamentos, a forma como vivemos, reagimos e interagimos, as reações negativas dos outros, etc,  é tudo muito "real", essas experiências acontecem mesmo. 
A única "realidade" que conhecemos é a que existe no mundo ilusório, assim, como podemos conceber a idéia de que tudo é ilusão? Como podemos sair dessa ilusão, se estamos tão presos a ela, por conta de nossas crenças que estão sempre se confirmando? Como podemos aceitar uma "outra" realidade e, mais ainda, viver a nova realidade, abrindo mão de toda a realidade ilusória na qual acreditamos? 
É possível, sim, acreditarmos e vivermos na "realidade verdadeira", mas somente quando nos propomos a descobrir estas verdades e buscamos o despertar da consciência. Com isto, começamos a perceber mais claramente esses equívocos. Mas a sensação entre o momento da desconexão com a ilusão e o imediato contato com a realidade, traz-nos um desconforto muito grande, uma sensação de desequilíbrio, dependendo do contexto, é como se nosso chão tivesse sido tirado de sob nossos pés. Mas se perseveramos em ficarmos sintonizados na realidade, esse mundo ilusório se desmorona à nossa volta. Ao mesmo tempo em que se desfaz, o ilusório nos "puxa" novamente para dentro de sua freqüência e "realidade". A sensação de vazio e confusão acontecem de forma dolorosa. Tudo acontece de forma muito rápida e temos que ter uma forte convicção e determinação em prosseguir, pois a ilusão nos atrai demasiadamente. Não devemos lutar contra, mas aceitar, pois isto é algo natural no processo de mudança de percepção e de contato com a realidade. 
A dolorosa sensação de desilusão, que experimentamos ao longo de nossa vida, não era real, pois acontecia dentro do mundo da ilusão, o que a tornava uma desilusão ilusória. No contato com a realidade, a desilusão acontece de forma mais intensa e difícil de lidar, pois está dentro de um contexto novo, durante a passagem da ilusão para a realidade. Isto poderá nos levar a um conflito, pois queremos nos aferrar à crença na "realidade do mundo ilusório", usando  mil justificativas para provarmos a "irrealidade do mundo real". 
Se tivermos consciência de que a confusão e conflito internos farão parte do processo natural da transição entre o ilusório e o real, ficaremos mais tranqüilos, o que favorecerá o processo de aceitação. O resultado é que o estado de confusão se dissipará, pois não haverá luta interna. Isto será favorável à retomada de nosso poder pessoal, que nos dará condições internas para suportarmos o que está ocorrendo dentro de nós, com uma auto-observação cuidadosa e com profundo auto-respeito. Com isto evitaremos racionalizações, para avaliarmos nossas percepções e constatações, com a sabedoria do Eu Real. Não estaremos tomando decisões e nem tirando conclusões, mas nos entregando a um momento difícil e sublime, que deverá acontecer com muita consciência. 
Nossa capacidade perceptiva ficará mais aguçada para que o entendimento, compreensão e ACEITAÇÃO das contestações e da realidade, possam acontecer a partir de nosso coração, porque é só aqui que tudo se "organizará e se aquietará", e nos trará as condições ideais para que possamos cada vez mais aceitar e vivermos a realidade. 
Porém, muitas vezes, conseguimos passar por este processo de aceitação da nova realidade, mas logo em seguida, nos deixamos levar de volta ao mundo da ilusão. Isto ocorre porque é mais confortável e dá menos medo - a realidade nos assusta -, viver no velho mundo que tanto conhecemos e com o qual aprendemos a lidar, mesmo com dor, mas é um mundo dentro do qual nos sentimos mais "seguros". Isto acontece porque nossas expectativas sempre são no sentido de esperar o pior, de acreditar no perigo e de temer o novo. O medo de viver a experiência do mundo novo e real nos faz recuar. 
Entramos na fase de oscilações, para que possamos sustentar a aceitação e a compreensão, para podermos passar para a fase de aprendermos a VIVER na realidade. Isto poderá acontecer se perseverarmos em buscar condições que nos apóiem e nos fortaleçam, que acontece dentro de um processo de autoconhecimento (qualquer que seja), onde temos a possibilidade de resgatarmos nossos potenciais, dons e sabedoria divina. Assim, a cada oscilação entre o contato com a realidade e o retorno ao conforto da ilusão, estaremos cada vez mais nos habituando e aprendendo a experimentá-la, de forma gradual. Não devemos nos forçar a viver em um mundo que tememos, isto seria uma auto-agressão. Precisamos nos acolher e nos aceitar dentro de nossas dificuldades e limitações. 
Com esta aceitação, cada momento de contato com a realidade, nos trará mais confiança dentro dela e isto nos levará a desejá-la e aceitá-la cada vez mais. Conseqüentemente, isto nos levará a vivermos a realidade, mesmo com medo dela, e nossa consciência nos ajudará a permanecer e perseverar. Será algo gradativo, que acontecerá primeiro dentro de contextos mais simples, em questões mais fáceis de serem aceitas e assimiladas, até que em um momento possamos estar mais seguros e confiantes, para que possamos expandir esse mesmo processo para todas as questões e aspectos de nossa vida. 
Quando nos colocamos inteiros na vida, com coragem e firme vontade, buscando, aceitando e vivendo integralmente a realidade, passamos a viver a partir de nosso Eu Real, que nos leva a viver com segurança, autoconfiança, sabedoria e discernimento, para que possamos enfrentar possíveis desafios naturais e, finalmente, cumprirmos nossa missão de vida.
[Teresa Cristina Pascotto]

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