terça-feira, 15 de junho de 2010

VAIDOSO, QUEM NÃO É?

"A vaidade é um elemento tão sutil da alma humana que a encontramos onde menos se espera: ao lado da bondade, da abnegação, da generosidade!" (Ernesto Sábato)
Dizem que a vaidade é a filha gerada da relação entre o orgulho e o amor próprio. Por isso, o "desejo premente de ser alvo de atenção, admiração ou elogio". (Dicionário da Lingua Portuguesa), é uma característica humana que situa-se entre a frivolidade e a necessidade de autovalorização do indivíduo.
Numa sociedade onde as aparências contam pontos na escala dos movimentos seletivos, o indivíduo sente-se impelido a investir da melhor maneira possível em sua estética e visual...
Por outro lado, a auto-imagem positiva, ou seja, a imagem segura que temos de nós mesmos, e a vaidade exercitada de forma equilibrada, são importantes acréscimos de qualidade na sensação de bem-estar do indivíduo.
Francisco Cândido Xavier, o "Chico Xavier", quando já era médium famoso, teve uma curiosa experiência com a sua vaidade: com a calvície em evolução, não teve dúvidas em não abrir mão de sua vaidade e usar uma peruca, o que lhe deu uma aparência mais jovial. Mesmo o espírito abnegado e despojado do médium brasileiro, não resistiu à tentação de satisfazer o seu ego com o acréscimo de um detalhe em sua aparência, o que provavelmente, tenha contribuído com a sua auto-imagem e autovalorização.
O problema da vaidade não é a vaidade propriamente dita, mas os seus desvios, desequilíbrios que levam a pessoa a processos obsessivos como a corpolatria (adoração do próprio corpo), ou a insatisfações latentes transferidas para o excesso de cuidados com a aparência.
No mundo moderno, sites de relacionamento virtual tornam-se imensos espelhos ou vitrines da vaidade saudável e do narcisismo exposto em álbuns de fotos. Nesses sites, a necessidade de contato humano — tão característico da nossa espécie — leva multidões de pessoas a exporem a sua intimidade e a revelarem facetas de suas personalidades, desde os egos mais discretos até os egos mais "inflados".
Nem os terapeutas escapam das "armadilhas" da vaidade. E por que deveriam escapar? Esses dias, ao abrir um site pessoal, deparei-me com a imagem de um colega rodeado por imagens de personalidades famosas que marcaram época na realização de obras edificantes. Entre elas, Madre Tereza de Calcutá e Mahatma Gandhi...
No entanto, sendo a vaidade filha legítima do orgulho, que por sua vez é primo do egoísmo, a sua expressão saudável sem misturas psíquicas que possam comprometer a sua natural expressão, só é possível com o processo de autoconhecimento.
Nesse sentido, o conhecimento de si mesmo percebe nas entrelinhas da vaidade, o seu progenitor louco para incentivar em sua filha, o narcisismo mal resolvido, pois, dessa forma - orgulhoso de si mesmo - não corre o risco de "perder a pose".
Como informa o dito popular, a vaidade é uma "faca de dois gumes", ou seja, de um lado a sua ação nefasta acompanhada de seus parentes próximos (orgulho e egoísmo), pode "cortar e ferir" o indivíduo, assim como pessoas próximas a ele. Pelo outro lado do gume, a sua ação construtiva e equilibrada, pode proporcionar ao indivíduo e demais pessoas de seu convívio, sensação de bem-estar e felicidade.
Nas experiências do âmbito espiritual, relacionadas às reuniões mediúnicas dos centros espíritas, quando encarnados trabalham no sentido de esclarecer e ajudar irmãos desencarnados a entender a situação em que se encontram, a vaidade expressa-se nas mais variadas situações de desequilíbrio, onde, geralmente ocorre o processo obsessivo.
Indivíduos que foram poderosos no passado permanecem orgulhosos e vaidosos, sem perceberem a sua real situação. Outros, entendendo a situação em que se encontram, não abrem mão do poder e permanecem orgulhosos, envaidecidos e prepotentes na função de liderança que exercem com "mão de ferro" sobre seus subordinados.
Outra situação da dinâmica mediúnica, por exemplo, revela a vaidade em desequilíbrio manifestada por uma irmã fixada no tempo pretérito, onde a (auto) obsessão à mantém prisioneira de si mesma à frente de um espelho que reflete a imagem de uma formosa dama da nobreza medieval...
Portanto, em relação à necessidade que temos de ser "alvo de atenção, admiração ou elogio", o equilíbrio ou o desequilíbrio fazem a diferença. Nesse sentido, a natureza com toda a sua simplicidade e beleza, representada pelas flores, paisagens, animais, crianças... e tudo que é belo, dá o seu recado ao homem, como que a dizer: "Siga-me, sou a linha natural, fonte de beleza,  equilíbrio e referência para as suas vidas!"
Finalizando, podemos afirmar que a vaidade em equilíbrio, como as demais características comportamentais que relacionam-se ao ego humano, é uma condição do espírito que aprendeu com o autoconhecimento, a expressar a beleza interior em harmonia com a auto-imagem corporal, ou seja, a aceitação de si mesmo como decorrência das experiências bem sucedidas entre as relações do corpo e da alma.
[Flávio Bastos]

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